Por Agenor Duque
O Vaticano deu um passo inédito ao incluir um evento organizado por católicos LGBT no calendário oficial do Jubileu 2025, evento que ocorre a cada 25 anos e reúne milhões de fiéis em Roma. A decisão, considerada inovadora, reflete uma atenção pastoral mais ampla, mas também gerou debates internos e externos sobre a relação da Igreja com a comunidade LGBTQIA+.
A peregrinação será realizada pelo grupo italiano La Tenda di Gionata em setembro, com uma programação que inclui uma vigília de oração em uma paróquia de Roma e uma visita à Basílica de São Pedro. A iniciativa foi destacada pelo jornal Il Messaggero como “uma novidade absoluta” e “impensável até há poucos anos”, representando um marco na busca por maior inclusão de grupos tradicionalmente marginalizados.
Agnese Palmucci, porta-voz do escritório de evangelização do Vaticano, responsável pela organização do Jubileu, esclareceu que a inclusão do evento no calendário não implica necessariamente apoio às atividades do grupo. Segundo ela, “não são atividades patrocinadas. Uma vez verificado que há espaço, inserimos a peregrinação no calendário geral”.
Inclusão e Controvérsias
A decisão reflete a postura mais aberta que o Papa Francisco vem promovendo desde o início de seu papado, marcada por declarações como “Quem sou eu para julgar?” ao se referir a pessoas LGBT em 2013. No entanto, ainda existem tensões dentro da Igreja. Para a ONG italiana Arcigay, a inclusão é um sinal positivo, mas insuficiente para combater a hostilidade que pessoas LGBTQIA+ enfrentam dentro de contextos católicos.
“Qualquer iniciativa que vise acolher as pessoas LGBTQIA+ e superar os obstáculos que encontram, inclusive na vida espiritual, merece ser celebrada”, declarou Gabriele Piazzoni, secretário-geral da Arcigay. Ele também alertou para a necessidade de ações mais consistentes no âmbito da Igreja.
O monsenhor Rino Fisichella, diretor do Jubileu 2025, foi sucinto em sua resposta às críticas, afirmando que “todos são bem-vindos”.
O Jubileu de 2025
O Jubileu é uma celebração católica especial realizada a cada 25 anos, marcada por peregrinações, orações e a busca pelo perdão espiritual. O evento de 2025, que começa em 24 de dezembro de 2024 e vai até 6 de janeiro de 2026, espera atrair cerca de 32 milhões de turistas a Roma.
A inclusão do evento LGBT no calendário oficial também coincide com debates mais amplos sobre temas como inclusão de mulheres, maior abertura para católicos divorciados e novas formas de ministério em regiões remotas. Esses temas foram abordados no documento Instrumentum Laboris, apresentado em 2023 como parte de um esforço para renovar as práticas e valores da Igreja.
Nos últimos anos, o Papa Francisco implementou reformas significativas, como a inclusão de mulheres em comitês de decisão anteriormente masculinos e a possibilidade de católicos leigos batizados ocuparem posições administrativas na Santa Sé.
Sinais de Mudança
Embora a inclusão do evento LGBT não represente uma mudança oficial na doutrina católica, ela reflete um esforço para engajar comunidades que historicamente se sentiram excluídas da Igreja. Para muitos, é um sinal de que o Vaticano está disposto a iniciar um diálogo mais abrangente sobre diversidade e espiritualidade.
No entanto, a jornada para uma Igreja mais inclusiva ainda encontra resistência entre setores conservadores, já que, em geral, o grupo defende uma igreja acolhedora mas não inclusiva; uma comunidade de fé que recebe a todos de braços abertos, entendendo que é isso que Jesus faria, ensinando a quem adentrar por suas portas que há uma forma de vida plena e satisfatória ofertada pelo evangelho de Cristo. Na contramão, os progressistas veem na decisão um passo necessário para aproximar a Igreja das realidades contemporâneas.
Com milhões de peregrinos esperados para o Jubileu, a inclusão do grupo La Tenda di Gionata no calendário oficial reforça a mensagem do Papa Francisco: a Igreja deve ser uma casa para todos, mesmo que isso exija atravessar territórios de tensão e transformação.