Esquema de compra de votos em Ibirá envolveu R$ 500 por eleitor. Justiça pode cassar prefeito eleito, vice e vereadores
O Ministério Público Eleitoral (MPE) quer a cassação do registro da candidatura do prefeito eleito de Ibirá, Nivaldo Domingos Negrão, o Biscoito, por compra de votos. O escândalo foi oficializado pelo pagamento via Pix a várias pessoas contratadas para “trabalhar” na campanha. As evidências e provas da ação do então candidato são latentes aos olhos do MPE. Pessoas envolvidas, questionadas pela promotora eleitoral Bruna Maria Buck Muniz, confirmaram que receberam para votar em Biscoito.
O esquema foi montado através do WhatsApp, aplicativo de mensagens. Os responsáveis pela “contratação” e os “contratados” para supostamente trabalhar na campanha, trataram do assunto sem qualquer preocupação sobre a prática do crime de compra de votos. As tratativas ficam claras nas mensagens de texto e áudios trocados entre os envolvidos.
A maioria dos que foi assediada para o negócio, em depoimento à promotora, confirmou o recebimento de valores que vão de R$ 200 a R$ 500. Uma das envolvidas era também uma espécie de “preposto” da campanha de Biscoito. Pela conta bancária dela passaram altos valores que eram repassados aos “contratados”.
Em um trecho da denúncia, a promotora diz que a compra de votos fica provada pela pequena diferença, 12 votos, entre Biscoito e seu adversário. “Considerando a mínima diferença de votos com o candidato opositor (12 votos), concluiu-se que o esquema adotado foi essencial para sagrar vitoriosos os candidatos Rodrigo Pagliusi, João Renato Tavares e Nivaldo Domingos Negrão, que, na presente, será denominado com seu apelido e o nome de urna “Biscoito”…”, afirma.
Na denúncia, a promotora Bruna Muniz ainda detalha o esquema montado pelos candidatos. “… os candidatos a vereador do grupo por ele (Biscoito) liderado prometiam aos seus cabos eleitorais, que se responsabilizavam por arregimentar eleitores, o pagamento de R$200,00 (duzentos reais) iniciais, mediante a apresentação dos títulos de eleitor e comprovantes de votação, alguns deles encaminhados por WhatsApp, e ainda o pagamento posterior da quantia de R$300,00 (trezentos reais) adicionais, caso o candidato a vereador e o Prefeito Nivaldo lograssem êxito na eleição, totalizando R$500,00 (quinhentos) reais por voto…”, diz a promotora.
A reportagem teve acesso à denúncia e destaca um dos diálogos que serviram de prova contra Biscoito. “O Zé, cadê o resto do dinheiro do candidato?” Já que teu candidato ganhou, nós temos dinheiro para receber, então… Geovana, minha irmã disse que não vai te dar o resto não, que ela já pagou os R$400,00 e você nem votou no cara, ela falou… ficou até brava comigo lá ainda ontem… você também, invés de ter ido pegar o papelzinho com o número do cara da mão dela, você falou que iria votar depois e do nada cê mandou os papéis votados… cê também faz cagada, né?”
CASSAÇÃO DE DIPLOMA
Ao final da denúncia, a promotora Bruna Muniz pede: “d-) Subsidiariamente, seja julgada procedente a presente ação, condenando-se os requeridos NILVALDO, JOÃO RENATO e RODRIGO às penas de multa, à cassação do registro ou diploma, nos termos do disposto no artigo 30-A da Lei 9.504/97.”
INELEGÍVEIS
A promotora pede ainda que o juiz determine a cassação dos direitos políticos dos candidatos denunciados. “e) Ao final, subsidiariamente, que seja julgada procedente a ação de investigação judicial eleitoral para se aplicar aos requeridos as penas do art. 22, XIV e XVI da LC 64/90 (inelegibilidade e cassação do registro/diploma)… “, escreveu Bruna Muniz.
QUEM SÃO?
Os candidatos acusados pela compra de votos são: João Renato Tavares, vice-prefeito eleito de Ibirá, além dos candidatos a vereador: Rodrigo Augusto Pagliusi, vereador eleito, Marcelo Sival de Araújo, candidato a vereador não eleito, Eberson Benedito Lopes de Souza, o “Binho”, candidato a vereador de Ibirá não. A promotora ainda pediu o enquadramento nas mesmas penas do presidente do Republicanos, partido dos candidatos, Cristiano Negri.
O OUTRO LADO
A reportagem tentou contato com todos os políticos citados na ação, mas conseguiu apenas enviar mensagem para Nivaldo Negrão, o Biscoito, que não respondeu aos questionamentos enviados. Caso eles se manifestem, o texto será atualizado.