O câncer se refere a um grupo de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado das células. Embora muitas pessoas culpem a genética pelo câncer, o Dr. Ramon Andrade de Mello, oncologista de São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra) e pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), afirma que os genes não são determinantes. “No câncer, surgem alterações no DNA das células, que passam a receber instruções erradas para desenvolver as suas atividades. Essas alterações podem ocorrer em virtude de maus hábitos de vida, além do que é herdado. Os fatores ambientais têm grande importância no desenvolvimento da doença”, explica o oncologista. Abaixo, ele explica cinco atitudes que ajudam a evitar a doença:
Melhorar a dieta – Segundo o médico, as chamadas doenças metabólicas (obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol alto e triglicerídeos altos) são consideradas um fator-chave no início e na progressão de muitos tipos de câncer e podem ser influenciadas pela dieta. “A obesidade, um componente da síndrome metabólica, está associada a altos níveis de inflamação que danificam tecidos saudáveis e contribuem para o surgimento de pelo menos 13 tipos de câncer. Por exemplo, estudos mostram que mulheres obesas têm um risco três vezes maior de câncer endometrial e um risco 2,5 vezes maior de câncer renal em comparação com suas contrapartes metabolicamente saudáveis e de peso normal. O excesso de gordura corporal, especialmente ao redor da região central, impulsiona o aumento da inflamação, do açúcar no sangue e da produção do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), todos os quais estão ligados a certos tipos de câncer”, diz Dr. Ramon. “Os mecanismos podem ser diferentes para diferentes tipos de câncer, mas a disfunção metabólica é o denominador comum”, explica. Evitar o sobrepeso, aumentar o consumo de vegetais e frutas, ricos em polifenóis e substâncias antioxidantes, e fibras, que melhoram a saúde intestinal, além de praticar atividade física, são atitudes que ajudam a evitar o câncer, segundo o médico.
Cuidar da saúde mental – Embora não haja evidência científica claramente comprovada, o médico explica que alguns trabalhos da literatura falam que o estresse pode estar associado ao desenvolvimento do câncer e como o indivíduo responde aos medicamentos. “É sempre importante ter um equilíbrio da saúde mental para uma melhor qualidade de vida. Os fatores emocionais podem estar associados ao desenvolvimento do câncer de forma indireta, provavelmente associada a comportamentos e hábitos que não são saudáveis e podendo estar relacionado ao aumento da suscetibilidade dessa doença”, explica. “Além disso, o fator emocional é uma variável importantíssima no tratamento, principalmente quando aliada à percepção de familiares e amigos próximos”, diz o médico.
Apagar o cigarro – O tabagismo é um dos principais responsáveis pelo câncer de pulmão. “O cigarro possui mais de 50 elementos carcinogênicos, ou seja, que podem ajudar no desenvolvimento do câncer. Além disso, a nicotina é responsável pelo ‘vício’ no cigarro. Por isso, o risco do câncer de pulmão. Mas o cigarro pode estar associado ao risco adicional de câncer de bexiga, câncer de cavidade oral, câncer de colo de útero entre outros. As substâncias “cancerígenas” presentes no cigarro quando expostas em excesso aumentam as chances de desenvolvimento de tumores malignos”, diz o médico. O vape ou cigarro eletrônico também aumenta esse risco. “O vape tem risco de suscetibilidade adicional de câncer similar ao cigarro, ou até mesmo maior do que o cigarro por conta dos produtos químicos presentes no vapor inalado”, conta o oncologista de São Paulo.
Atentar-se ao ar que respira – “Atualmente, sabemos que o ar que respiramos, principalmente nas grandes cidades, apresenta diversos poluentes, que são substâncias que podem estar relacionadas ao aumento da suscetibilidade de desenvolver o câncer, especialmente o de pulmão. Substâncias nocivas da atmosfera oriundas das fábricas, carros, aviões podem danificar as células dos nossos organismos e gerar um tumor maligno”, diz. “Pensando em poluição, normalmente, ela está relacionada ao câncer de pulmão (poluentes da atmosfera), câncer de estômago (fumaça de carvão de churrasco) e câncer de sangue (poluentes vindos das radiações ionizantes)”, diz. A melhor maneira de se proteger, segundo o oncologista, é evitar locais com grande quantidade de poluentes e usar máscaras.
Não consumir álcool – Primeiro, uma informação que precisa ficar clara: não existe dose segura recomendada para o álcool. “O consumo de álcool é conhecido como uma substância cancerígena, quando a ingestão é alta, mas não há definição de dose segura para o álcool. Os tipos de câncer mais associados são cabeça e pescoço, colo retal, fígado e mama. O álcool é uma substância que pode lesionar células do organismo, bem como também causar lesão do DNA levando a replicação celular desordenada. Além de ser uma substância inflamatória, também pode causar estresse oxidativo nas células, o que também pode ser uma causa do desenvolvimento de câncer”, finaliza o Dr. Ramon.
FONTE: *DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista em São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
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