O Corinthians vive mais um episódio de instabilidade política, desta vez envolvendo o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, e o presidente do clube, Augusto Melo. Na última quinta-feira (21), Tuma pautou a votação de um impeachment contra Melo, marcada para o próximo dia 28, sob alegações de irregularidades em sua gestão.
O caso ganhou destaque após Melo se manifestar em suas redes sociais, onde chamou a ação de “golpe” e afirmou que o processo desrespeita os princípios de democracia e justiça. Segundo ele, não há qualquer evidência concreta que justifique seu afastamento, especialmente porque o inquérito policial sobre o caso “Vai de Bet” – apontado como a base para o pedido de impeachment – ainda não foi concluído.
“Recebi com indignação a convocação para votar o processo de impeachment contra mim. Essa situação é um desrespeito à instituição e uma afronta à democracia que todos nós corinthianos defendemos”, declarou Melo, em nota publicada em sua conta na plataforma X (antigo Twitter).
De acordo com o Diário de São Paulo, o caso que motivou a tentativa de destituição está relacionado a uma suposta irregularidade envolvendo a plataforma de apostas “Vai de Bet”, que patrocinou o clube. No entanto, o processo ainda está em fase de apuração pela Polícia Civil, e nenhum relatório final foi emitido.
A Comissão de Ética do Corinthians já havia recomendado suspender qualquer julgamento interno até que o inquérito fosse concluído, mas, ainda assim, Romeu Tuma Júnior decidiu prosseguir com a pauta de impeachment. Segundo ele, a medida seria necessária para garantir a “tranquilidade da gestão”, mas críticos, incluindo o próprio Melo, veem na iniciativa uma tentativa de desestabilizar o clube e assumir o controle administrativo.
A crise chega em um momento delicado para o Corinthians, que se encontra nas rodadas finais do Brasileirão e em fase de planejamento para a próxima temporada. Augusto Melo destacou que o clube pode sofrer prejuízos irreparáveis caso o processo seja levado adiante.
“Estamos trabalhando em um planejamento para o próximo ano que pode ser comprometido por essa manobra. A verdade prevalecerá, e aqueles que querem impedir a profissionalização do Corinthians serão derrotados”, afirmou Melo, reforçando que não abrirá mão do direito de defesa.
Histórico de Romeu Tuma Júnior
O Diário de São Paulo também relembrou o passado polêmico de Tuma Júnior. Ex-delegado de polícia e deputado estadual, ele foi nomeado Secretário Nacional de Justiça no governo Lula, em 2007, mas exonerado em 2010 após denúncias de envolvimento com a máfia chinesa. A investigação da Polícia Federal, conhecida como “Operação Wei Jin”, apontou ligações entre Tuma e Paulo Li, chefe de um esquema de contrabando de celulares falsificados.
Interceptações telefônicas e e-mails revelaram que Tuma teria ajudado a liberar mercadorias apreendidas e a regularizar a situação de imigrantes ilegais. Ele também foi acusado de ser cliente assíduo do esquema.
Críticos questionam se sua conduta atual não reflete os mesmos padrões de atuação do passado.
Democracia em jogo
Para analistas consultados pelo Diário de São Paulo, o episódio vai além de uma disputa interna no clube e reflete um debate mais amplo sobre transparência, democracia e governança no futebol brasileiro. “Quando um processo de impeachment é conduzido sem provas concretas ou respeito aos direitos de defesa, ele perde a legitimidade e coloca em risco a confiança dos torcedores na administração do clube”, avalia o sociólogo esportivo Carlos Nunes.
A reunião decisiva será realizada no dia 28, e a mobilização entre conselheiros e associados já é intensa. Torcedores, por sua vez, acompanham o caso com apreensão, preocupados com os possíveis impactos na estabilidade e no desempenho do time.