Diante do crescente desafio de democratizar o ensino superior público no Brasil, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) apresentou um conjunto de propostas que pode transformar o cenário educacional. Entre as principais iniciativas está a criação de faculdades federais focadas exclusivamente no ensino e a ampliação da oferta de cursos na modalidade de Educação a Distância (EaD). Essas medidas buscam oferecer novas oportunidades para jovens que enfrentam dificuldades para ingressar no ensino superior público.
Faculdades públicas voltadas ao ensino
As universidades federais atuais, além de serem responsáveis pela formação acadêmica, também atuam em pesquisa e extensão, gerando interação com a sociedade. No entanto, a manutenção dessas atividades aumenta os custos por aluno, o que dificulta a expansão do número de vagas. Pensando nisso, o relatório sugere a criação de faculdades federais com foco unicamente no ensino, o que permitiria a formação de mais profissionais a um custo mais acessível.
Segundo Rodrigo Capaz, professor e membro da ABC, o objetivo é adotar um modelo mais sustentável e acessível. Ele explica que “a experiência internacional mostra que a democratização do ensino superior não depende apenas de universidades de pesquisa, mas sim de instituições focadas na formação de estudantes”. Com essa mudança, espera-se que o Brasil consiga aumentar significativamente a oferta de vagas, atendendo à demanda reprimida por educação superior de qualidade.
Outro ponto importante do relatório é o aumento da oferta de cursos EaD. Entre 2011 e 2021, essa modalidade cresceu 474% no Brasil, ao passo que a procura por cursos presenciais caiu em 23,4%. Essa expansão mostra que a EaD se tornou uma solução viável para aqueles que precisam de mais flexibilidade nos estudos, especialmente em regiões afastadas ou para estudantes com limitações de tempo.
O professor Capaz ressalta que o ensino a distância é uma ferramenta poderosa que permite levar educação para locais de difícil acesso e para quem necessita de horários mais flexíveis. Contudo, a qualidade desses cursos precisa ser garantida. O Ministério da Educação (MEC), atento a esse crescimento, suspendeu até 2025 a criação de novas vagas EaD no setor privado para revisar o marco regulatório da modalidade. A proposta, no entanto, é que as universidades federais também passem a oferecer mais cursos a distância, ampliando a atuação do setor público nesse formato.
Centros de formação em áreas estratégicas
Além das faculdades e do ensino a distância, a ABC sugere a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas (CFAEs) nas universidades públicas. Esses centros atuariam em áreas essenciais para o desenvolvimento do país, como bioeconomia, transição energética, saúde, bem-estar, e inteligência artificial. A proposta é que esses centros trabalhem de forma interdisciplinar, promovendo inovações tecnológicas e soluções para desafios específicos do Brasil.
Para Helena Nader, presidente da ABC, a educação precisa ser uma prioridade no Brasil, especialmente em um momento de transformações tecnológicas. “A educação é fundamental para que o país alcance desenvolvimento sustentável e justiça social”, afirma. Mesmo em um cenário de restrições orçamentárias, a ABC acredita que o investimento no ensino superior público pode resultar em ganhos a longo prazo.
O relatório da ABC aponta que, atualmente, apenas 22% da população brasileira entre 25 e 34 anos tem diploma universitário, número abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 47%. Diante dessa realidade, as propostas visam não só a inclusão, mas também a valorização do ensino superior público.