Hoje, 18 de junho, dia em que é celebrado o Dia Nacional da Imigração Japonesa, o designer Gian Castelli conta um pouco sobre uma das técnicas que usa para criar suas peças: a Shou-sugi-ban. Trata-se de uma técnica milenar da queima da madeira desenvolvida para conservá-la, uma vez que torna impermeável, protegendo contra intempéries. Além disso, a técnica destacas as características das camadas superficiais.
Dono de uma curiosidade aguçada e sempre antenado às novidades do mercado, Gian Castelli, é um dos nomes jovens que desponta no cenário nacional quando o assunto é design de produto. Com especialização em Design Thinking pelo IED – Istituto Europeo di Design –, e com passagem pela Escola Panamericana de Arte e Design, além de especializações em marcenaria e serralheria no lab74, Gian é um amante inveterado quando o assunto é arquitetura e design.
Banco Pescare por Gian Castelli
Filho de artistas criadores atuantes no design e na moda, traz a arte em seu DNA e, mais que isso, crescer em meio à um universo lúdico e criativo, fez despertar o talento nato, como ele conta: “cresci vendo muitos móveis e cercado por arte em geral. Com os anos, fui me envolvendo com design, arquitetura e comecei a mexer com marcenaria e serralheria por pura curiosidade e necessidade de criar.”
Como começou a aplicar a técnica Shou-sugi-ban em alguns dos seus trabalhos?
Uso a técnica desde minha primeira coleção, a Nero, lançada no final de 2021. Além de conservar a madeira, deixando-a escura, preta, para mim, cria uma elegância atemporal. A técnica do Shou-sugi-ban, impermeabiliza a madeira e destaca suas características por meio da queima das camadas superficiais. Além da beleza estética, a madeira que passa pelo processo de carbonização se torna resistente a intempéries, e se torna, também, resistente a insetos que dela se alimentam, prolongando assim, sua vida útil.
Como você se identifica com o uso dessa técnica em seu trabalho?
Trato essa técnica com muito respeito, por ser uma técnica milenar e proveniente de uma cultura muito tradicional. Acho mágica essa transformação da matéria pela qual a madeira passa com a Shou-sugi-ban. É uma verdadeira alquimia, é algo que imprime ‘poder’, algo que deve ser respeitado. Para mim, é poético! A cultura japonesa faz muito sentido na minha vida, é poesia pura.
Que outros materiais você costuma usar em paralelo ou na criação da mesma peça com a madeira carbonizada?
Gosto muito de usar metal em minhas criações, mas também uso mármore, além de revestimentos diferenciados, como pele de pirarucu. Com isso, procuro transmitir nas peças alguma forma de impacto, algo além do funcional, que possa prender a atenção. Como é o caso do banco Pirarucu no qual o revestimento com a pele do peixe que outrora era descartado, passou a ter uso, se tornando uma peça sustentável. Alinhada à técnica da queima da madeira, o banco ganhou ares ainda mais sóbrios. Vejo as peças, também, como esculturas que trabalham bem sozinhas ou com outros objetos de decoração. Com minimalismo nas estruturas e brutalismo nas formas e estética, procuro extrapolar a simples função de mobília.
Fotos: Pedro Lins