Na terça-feira (23), Buenos Aires viu uma impressionante manifestação em defesa da educação pública, com milhares de pessoas inundando as ruas da cidade em apoio às universidades. A marcha, que começou por volta das 16 horas, reuniu uma multidão diversificada, desde estudantes até políticos e artistas, todos unidos contra os cortes orçamentários que ameaçam as instituições de ensino superior. O movimento não ficou restrito à capital, com manifestações ocorrendo em várias cidades do país, como Córdoba, Rosário e Chaco, e ônibus lotados chegando a Buenos Aires.
A convocação para a marcha foi abrangente, refletindo um temor generalizado entre os argentinos: o possível fim da universidade pública. Jovens do ensino médio ao lado de professores e membros da comunidade acadêmica marcharam em solidariedade, com cartazes clamando pela proteção da Universidade de Buenos Aires (UBA) e outras instituições. A principal reivindicação era a atualização do orçamento, aumento dos salários do pessoal docente e não docente, além da preocupação com a deterioração do sistema científico e a suspensão de obras de infraestrutura.
Os cortes não afetaram apenas as universidades, mas também institutos e hospitais ligados ao sistema universitário, com uma queda significativa nas transferências de recursos. O impacto é especialmente grave na área da saúde, com diretores de hospitais alertando para aumentos exorbitantes nos custos de medicamentos e outros insumos. A situação levou uma estudante de medicina a erguer um cartaz destacando o compromisso de não permitir o declínio da universidade pública.
A Argentina possui 65 centros universitários estatais, onde a maioria dos estudantes do país está matriculada. Os números do Ministério da Educação mostram que em 2022, mais de dois milhões de estudantes frequentavam instituições públicas, enquanto cerca de meio milhão estava em instituições privadas. Além disso, havia mais de 120 mil estudantes estrangeiros, a maioria também nas universidades públicas.
O movimento culminou em um evento na Plaza de Mayo, onde um documento em defesa da educação pública seria lido, encerrando um dia de mobilização histórica. Em meio a esse contexto, o Instituto Balseiro em Bariloche comemorou seu aniversário enfrentando uma situação orçamentária delicada, evidenciando os desafios enfrentados por instituições em todo o país.
A resposta do governo foi ambígua, com o presidente Milei minimizando as reivindicações e sugerindo que a mobilização era politicamente motivada. Essa postura gerou críticas e divisões mesmo entre seus aliados no legislativo, com alguns grupos expressando apoio às demandas dos manifestantes. A marcha também atraiu apoio de setores diversos da sociedade argentina, desde políticos tradicionais até movimentos de esquerda.
Em suma, a mobilização em defesa da educação pública na Argentina reflete não apenas preocupações imediatas com cortes orçamentários, mas também questões mais amplas sobre o papel do Estado na garantia de acesso à educação de qualidade. O apoio maciço demonstrado nas ruas indica a profundidade do compromisso do povo argentino com esse princípio fundamental.