Por Flavia Meirelles
Novembro Azul é um mês dedicado à conscientização sobre a saúde masculina, com foco especial no câncer de próstata. Para esclarecer dúvidas e abordar questões fundamentais, entrevistamos a Dra. Mariana Bruno Siqueira, oncologista da Oncologia D’Or no Rio de Janeiro e pesquisadora do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa.
Nesta conversa, a Dra. Mariana aborda os receios mais comuns enfrentados por homens diagnosticados com câncer de próstata, explora a relação entre a condição e a saúde mental, e destaca a importância do suporte emocional no processo de tratamento.
- Quais os maiores receios dos homens diagnosticados com câncer de próstata?
O que eu observo na minha prática de consultório é que os dois maiores receios do homem diagnosticado com câncer de próstata são o da evolução da doença e o das sequelas do tratamento, como incontinência urinária, disfunção erétil e sintomas do bloqueio da testosterona (redução da libido, ondas de calor e perda de massa muscular).
- Existe maior incidência de depressão e ansiedade? Como melhorar o estado emocional do paciente?
Estudos mostram uma incidência de depressão de 8 a 18% em homens com câncer de próstata. A incidência na população masculina geral, segundo a OMS, é de 4%, portanto pacientes com câncer de próstata têm um risco que pode chegar a 4 vezes mais de evoluir para depressão em relação ao encontrado nos homens em geral. Existem diversos fatores que contribuem para um maior risco de depressão, desde a idade (homens mais jovens com diagnóstico têm um risco maior), a história prévia de depressão ou ansiedade, história familiar de depressão, o diagnóstico tardio da doença (o tratamento nestes casos envolve várias modalidades que podem interferir na qualidade de vida do paciente, como cirurgia, radioterapia e principalmente uso de medicações para bloquear a testosterona), além do suporte familiar e social (homens solteiros estão entre os mais propensos, segundo algumas pesquisas).
Primeiro, é muito importante reconhecer os sintomas de depressão e ansiedade. Os profissionais envolvidos no tratamento desses pacientes devem estar atentos para identificar fatores de risco e sinais dessas condições. Quando identificado, esses pacientes podem ser medicados e acompanhados em conjunto com a psiquiatria e a psicologia. Aliás, desde o diagnóstico, esses pacientes devem ser avaliados pela equipe de psicologia. Depressão, ansiedade e medo têm tratamento. A melhora dos sintomas e do estado geral do paciente com uso de medicações, o apoio psicológico profissional e da família é visível.
- O quanto o mental e o emocional podem ajudar na cura?
O estado mental e emocional são essenciais no processo do tratamento e chances de controle da doença. Alguns estudos já avaliaram que pacientes que têm um quadro emocional mais estável têm prognóstico favorável e mais chance de sucesso com o tratamento. Mas é importante frisar que, muitas vezes, não conseguimos controlar nosso estado emocional, principalmente diante de uma doença com tantos estigmas. O mais importante é pedir e aceitar ajuda nestes casos. Com apoio e tratamento adequados podemos reverter essa situação. A chance de cura na fase inicial é de 90%. Já em estágios mais avançados é possível controlar o surgimento de resistência e até dobrar a sobrevida dos pacientes com novas drogas e tratamentos. É importante ressaltar a importância dos exames de rastreamento e diagnóstico precoce para o sucesso do tratamento.
Novembro Azul: Conversamos com o oncologista Dr. Daniel Herchenhorn