Posvenção: quem conviveu com um suicida precisa de cuidado

Drª Alexandrina Meleiro || Crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal

Quando o pior acontece, é preciso olhar também para as pessoas que ficaram

A médica psiquiatra Alexandrina Meleiro, doutora pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP, conversou com a revista PODER online sobre posvenção, termo traduzido livremente do inglês posvention que ainda confunde muita gente.

O que é posvenção?
É o nome que se dá ao atendimento prestado a quem perdeu um ente querido para o suicídio. Estima-se que o suicídio afeta de cinco a dez pessoas próximas e que, todo ano, mais de 4,8 milhões de pessoas no mundo vivem o luto pela morte voluntária de alguém.

O trabalho da posvenção é multidisciplinar e realizado por uma equipe que inclui psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. O conceito, que surgiu na década de 70, foi idealizado pelo psiquiatra americano Edwin Schneidman, que é considerado o pai da suicidologia, ou seja, do estudo do suicídio.

A posvenção também se aplica a quem tentou se suicidar?
Não. Os cuidados dispensados àqueles que atentatam contra a própria vida fazem parte da prevenção, já que tentativas anteriores podem aumentar até seis vezes o risco de novas investidas. A posvenção, por sua vez, foca naqueles que conviveram com o suicida, o que em inglês chamamos de survivors (sobreviventes).

Por que se diz que a posvenção também tem caráter preventivo?
Isso se aplica principalmente a famílias enlutadas por causa do suicídio de um parente. Ser filho de pais que puseram fim à própria vida eleva quatro vezes o risco de suicídio. Por isso, nesses casos, a posvenção também tem função preventiva.