É de se perguntar se Arthur Lira, presidente da Câmara Federal (PP-AL), anda assistindo a aulas de teatro. Se sim, deve estar a aprender o método Stanislavski, em que a vida real, ou algo que o valha, é o grande laboratório do ator.
As demonstrações de calculada indignação quando é perguntando se discutiu nomes e cargos com o presidente Lula; os amuos quando são invocados kits de robótica superfaturados; e, finalmente, a contrariedade quase cética quando lê no interlocutor desdém pelo trabalho parlamentar põem a gente, a plateia, digo, comovida como o diabo.
O deputado não perdeu a oportunidade de replicar, à sua maneira, sem citar nomes, a fala definitivamente desastrada de Fernando Haddad, que, numa entrevista em que parecia talvez excessivamente confiante, pronunciou as frases pouco recomendáveis “a Câmara dos Deputados está com um poder muito grande” e esse tal poder não pode ser usado para “humilhar o Senado e o Executivo”.
Minutos após a entrevista vir a lume, na segunda (14), Lira tuitou um já tradicional “fio” que invariavelmente começa com “a Câmara dos Deputados tem dado sucessivas demonstrações de que é parceira do Brasil, independente do governo de ocasião. Todos os projetos de interesse do país são discutidos e votados com toda seriedade e celeridade.”
Lá para baixo vem o papo reto:
“É equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja. A formação de maioria política é feita com credibilidade e diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa.”
[+] É equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja. A formação de maioria política é feita com credibilidade e diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa. [+]
— Arthur Lira (@ArthurLira_) August 14, 2023
Lula, que vem repetindo com sofreguidão que é ele quem precisa de Lira e não o contrário, deve ter adorado. Haddad tentou remediar o irremediável com um telefonema pós-tuíte e uma entrevista coletiva, tudo ainda na segunda-feira.
A presidente do PT, deputada federal, Gleisi Hoffmann, tentou livrar a barra do ministro pinçando na fala pouco solene de Haddad oposição – de novo – ao “bolsonarista [Roberto] Campos Neto”, presidente do Banco Central. Juros, claro, agora do crédito rotativo.
“Se quisesse enfrentar as taxas indecentes do rotativo, o BC poderia ter agido há muito tempo, contra os exploradores, não contra o consumidor e o varejo. Parece que é de propósito, querer cortar o crédito no momento em que a economia dá sinais positivos e Lula lança o novo PAC”, escreveu Gleisi.
E etc. etc.
Nenhum pio sobre a reação de Lira.
Fernando Haddad desautorizou o bolsonarista Campos Neto, campeão mundial de juros altos, que pretendia acabar com o parcelamento do cartão de crédito dos brasileiros. Faz muito bem o ministro, pois o parcelamento é a porta de acesso ao consumo da maioria da população. Encerra um…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 15, 2023