A falha elétrica que ocasionou apagão em 25 dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, atingindo cerca de 30% dos consumidores brasileiros, nos cálculos do ministério das Minas e Energia, não chegou a despertar o sabor dos apagões do segundo governo Fernando Henrique Cardoso, que levou a uma economia de energia forçada e fez com que largas seções de trabalhadores de turno mais estendido ficassem no escuro.
O problema desta terça (15) foi mais sentido nas regiões Norte e Nordeste, que ainda não tiveram recuperação total de energia. Por volta de 12h, segundo o presidente em exercício Geraldo Alckmin, o Nordeste já tinha 80% da carga e o Norte, mais de 40%.
As regiões Sudeste e Sul foram bem menos afetadas. No subsistema Sudeste-Centro-Oeste, a perda foi de 19%; na Sul, 15,5%.
Em São Paulo, o problema atrapalhou pessoas que se deslocavam para o trabalho. Uma das linhas privatizadas de metrô, a 4, teve interrupção de circulação parcial.
O evento, por falar no tema, serviu para reacender as paixões em torno da privatização. A Eletrobras, estatal de energia brasileira, como se sabe, foi privatizada no governo Jair Bolsonaro, e Lula reclamou muito da perda de controle acionário por parte do governo brasileiro, que, estranhamente, segue com a maior parte das ações. O tema tornou-se trend topic no ex-Twitter e até mesmo o ex-presidenciável Ciro Gomes se manifestou.
Ciro havia sumido da rede social, utilizando-a recentemente para divulgar suas newsletters e manifestas pesar com a perda de bons brasileiros. Escreveu o ex-governador do Ceará: “A entrega do controle da Eletrobras ao capital privado foi e, infelizmente, pela covardia do governo Lula, continua sendo, uma das maiores irresponsabilidades que já se praticou no Brasil!”
A entrega do controle da Eletrobras ao capital privado foi e, infelizmente, pela covardia do governo Lula, continua sendo, uma das maiores irresponsabilidades que já se praticou no Brasil!
— Ciro Gomes (@cirogomes) August 15, 2023
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O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), decidiu adiantar sua volta do Paraguai, onde estava com Lula, e organizou uma entrevista coletiva por volta das 16h50. Ele respondeu questões técnicas, horários de restabelecimento total da energia, disse que busca respostas sobre as razões da queda do sistema, algo que ainda não foi esclarecido pelo Operador Nacional do Sistema.
Ele destacou as ações para o restabelecimento em regiões como o Sudeste, disse que o Nordeste sofreu perda de energia mais longa por conta de o “episódio” – a falha elétrica – ter ocorrido na região e aproveitou para centrar sua fala na perda, pela União, do “braço operacional do sistema elétrico”, ou seja, a Eletrobras, privatizada em 2022, que detém a maior parte da geração e da transmissão de energia no país.
Ele observou que “uma empresa estratégica como a Eletrobras” deveria ter uma “sinergia muito grande com o poder público”, já que “é do poder público que a sociedade pede respostas”.
E reclamou: “Nós não tivemos sequer a solidariedade da Eletrobras nesse sentido.”
Por vários momentos, ele disse que o setor elétrico é estratégico e “deve ter mão firme do estado brasileiro” e que “ninguém bateu na porta da Eletrobras para saber o que aconteceu hoje”. Ele respondeu ainda sobre uma suposta sabotagem ter motivado a falha e as razões de o ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal, ingressar no episódio para ajudar nas investigações.
“A única motivação que nos leva a pedir que o ministério da Justiça (..) participe da apuração do ocorrido hoje é a sensibilidade do setor elétrico nacional, a clareza que com esse setor não podemos transigir na segurança. Não há nenhum apontamento leviano de responsabilidade. O que se afirma é de que a Eletrobras foi privatizada em 2022 [isso] nada mais é que fazer constatação da realidade.”
O ministro a seguir voltou a criticar o modelo de “corporation”, a atual configuração da Eletrobras em que a União não participa de decisões administrativas, que dizer das executivas. Reclamou de saber “pela imprensa” da renúncia recentíssima, na segunda (14), do ex-presidente Wilson Ferreira Jr.