POR THAYANA NUNES
O desejo de encontrar algo que nos faça felizes faz parte de reflexões filosóficas desde a Grécia Antiga – o que, sem dúvida, pode ter contribuído para gerar ainda mais perguntas do que respostas.
Se antes eram os grandes pensadores que produziam ideias e conceitos, conclamados até hoje, agora é nos livros de autoajuda, nos podcasts e nas palestras de TEDx, além dos milhares de perfis de redes sociais, que surgem teorias para encontrar “essa tal felicidade”.
A palavra “felicidade”, aliás, bateu recorde de buscas on-line nos últimos anos. Quem afirma isso é o World Happiness Report 2022, famoso ranking anual que mede o quanto um país é feliz por meio de pesquisas que envolvem a satisfação pessoal, a saúde física e mental, a renda e o emprego da população.
No relatório de 2022, o Brasil subiu algumas posições, e passou do 41° para o 38° lugar. Já esteve em 14°, em 2014, mas vinha em declínio nos últimos tempos. O motivo da melhora parece estar na coletividade. “A recente pandemia teve um forte impacto nas concepções sobre o que é mais importante para uma vida boa e, de fato, sobre como a sociedade pode promover melhorias coletivas para o bem-estar”, diz um dos capítulos do documento.
Os dados, que mostraram que o estresse, a preocupação e a tristeza tiveram um aumento, também apresentaram um crescimento no sentimento de benevolência, com mais pessoas trabalhando como voluntárias, fazendo doações e se preocupando com o meio ambiente.
Para além da subjetividade e das pesquisas, PODER foi atrás de pessoas com diferentes olhares e experiências para falar sobre a felicidade como um estado, o “estar feliz”, e o resultado mostra que o sentimento mora mesmo é nas relações afetivas, em pequenos prazeres e no constante processo de autoconhecimento.
“Para ser feliz faço amor sempre que o amor sorri e jogo com meus filhos todos os dias. Também faço ioga com minha companheira ao despertar, muita ciência e política durante o dia, e capoeira no início da noite, três vezes por semana”. – Sidarta Ribeiro, neurocientista e fundador do Instituto do Cérebro, da UFRN
“O exercício físico com meu treinador, acompanhado de longas caminhadas pela praia, ou pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ou em qualquer outra cidade, são fundamentais para manter minha saúde física e mental. Essas caminhadas têm também uma função meditativa, já que possibilitam um encontro reflexivo comigo mesma, na busca da felicidade, do equilíbrio necessário para a minha vida, enfim, para os meus fazeres, os meus afetos e tudo o que me circunda”. – Beatriz Milhazes, artista plástica
“Eu encontro a felicidade em pequenos momentos do meu dia a dia. No barro que eu moldo para transformá-lo em cerâmica, nas linhas do crochê, mas principalmente no sorriso da minha neta Eliza”. – Denise Aguiar Alvarez, diretora-presidente da Associação Desportiva Classista Bradesco
“Trabalho num lugar legal, com pessoas legais e, durante a pandemia, contratamos uma cozinheira que faz
um almoço muito, muito bom. Nem percebo a vida passar”. – Marcio Kogan, arquiteto
“Ser feliz é um conceito abstrato que resolvi refazer do ‘ser feliz…’ para ‘estou feliz…’. Estou feliz quando estou em família, estou feliz quando estou com filhos, estou feliz quando estou com amigos, estou feliz quando conheço lugares novos, estou feliz quando malho, estou feliz quando estou no mar ou no rio, estou feliz quando entregamos algo de supervalor para clientes, quando as pessoas se inspiram…Muitas desses momentos elevam a gente para a felicidade”. – Ana Couto, designer e empreendedora na área de branding
“Felicidade para mim só é possível quando a busca é por aprimoramento das nossas relações e expansão da consciência. Assim consigo viver sem frustrações e com mais generosidade comigo e com quem me cerca. Liberdade é pilar da nossa felicidade. Também procuro estar com pessoas que seguem esse mesmo estilo de vida,
mais desprendido e realista, menos ganancioso e mesquinho. Pessoas que realmente se preocupam com a qualidade das energias que emanam são um bálsamo que potencializam nossa felicidade”. – Joice Berth, arquiteta e escritora
“Parodiando Contardo Calligaris: ‘Não quero uma vida feliz, quero uma vida interessante’. E para isso escuto a vida. A que pulsa e não cessa de brotar dos mais inesperados lugares. Sobretudo aqueles que podem me surpreender, os que escapam da minha rotina. Viver com o olho delicadamente aberto pode nos trazer momentos de descoberta e, assim, de prazer inédito”. – Maria Homem, psicanalista e professora da Faap
“É bem simples: ter tempo de qualidade com gente que amo. Esposa, família e melhores amigos. Uma vez por mês, no mínimo, ir para o meio da natureza para recarregar as energias (e, nesse critério, nada bate Angra dos Reis). E levar o dia a dia um pouco piadista, com humor, para deixar todas as obrigações e correrias mais leves”. – Romero Rodrigues, investidor