Não que Jair Bolsonaro tivesse um par de ases na mão, mas abrir o jogo e dizer exatamente o trunfo que conta usar na partida é um pouco demais — até para o “sincerão” Bolsonaro.
O ex-presidente que tem sua inelegibilidade em julgamento no TSE disse nesta sexta-feira (23) que espera que o ministro Raul Araújo Filho peça vista no processo, jogando a decisão para as calendas gregas.
Curiosamente, a banca de apostas falava exatamente disso nesta quinta (21), quando houve a sessão inicial, mas a figura a pedir vista não seria Araújo, mas Nunes Marques, o Kassio Comká, ministro do STF indicado ao Supremo justamente por Bolsonaro.
O ex-presidente deu seu depoimento à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, cidade para onde foi com apoio logístico do PL, seu partido, na quinta-feira, a fim de tentar criar uma agenda minimamente positiva.
Mas Bolsonaro é Bolsonaro, e, perguntado, ele logo voltou a incorrer em sua “narrativa” de que teve uma gestão razoável na pandemia de Covid. Ter privilegiado a “autonomia médica” teria sido uma decisão bastante aceitável.
“Quantos morreram [de Covid-19] em penitenciárias? Quase ninguém. Porque eles tomavam um remédio chamado ivermectina que era para chato. Pode ser que dê certo, pode ser que não dê, eu não vou ser aquele a dar a palavra final. Dei autonomia para o médico”, disse.
Citando o CNJ, a Folha de S.Paulo lembrou que em janeiro de 2022 o número de mortes entre presidiários chegou a crescer 225% em comparação ao mesmo mês do ano anterior.