Mal começado Lula 3, Marina enfrenta grandes guerras, dentro e fora do governo

Marina Silve e Isnaldo Bulhões Jr. || Crédito: José Cruz/ Agência Brasil/Billy Boss/Câmara dos Deputados

Exploração de petróleo na Costa Amazônica e possível perda de órgãos do ministério do Meio Ambiente colocam em lados distintos ministros e parlamentares

Em mais de um sentido, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede-AC), é quem talvez seja a figura mais sensível de todo o conglomerado de ministros do governo Lula 3. A queda-de-braço entre Petrobras e o ministério do Meio Ambiente pela exploração de petróleo na chamada margem equatorial – da costa do Amapá ao Rio Grande do Norte – levou a uma reunião emergencial organizada na terça (23).

Nela, participaram o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira; e Marina Silva e Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama. Marina, que foi a única a falar com a imprensa após o encontro, disse que a decisão do Ibama será mantida. “A nova realidade do governo (…) é o cumprimento da lei”, disse.

Mas essa não é a única luta que tem Marina como protagonista. O Congresso pode alterar drasticamente a MP do Esplanada, que reorganiza os ministérios, trocando órgãos entre as pastas. No relatório formatado pelo deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), e que deverá ser votado nos próximos dias, o Meio Ambiente sofre baixas significativas, com a ANA (Agência Nacional de Águas) e o CAR, o Cadastro Ambiental Rural, migrando para outras pastas.

Marina criticou severamente o relatório, disse que o Congresso quer “implementar o governo Bolsonaro no governo Lula”, mas deve ficar sozinha na crítica. Seu colega, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, viu “contribuição” do Congresso no debate.

A Globo News nesta quarta (25), o deputado Bulhões se manifestou, dizendo que Marina “está indo de encontro ao pensamento de governo”. “Quando ela fala, não sei se movida por um espírito narcisista, que a política de proteção ao meio ambiente está sendo esvaziada, não é verdade.”

A luta continua. Nesta quarta, Marina, como já fizeram antes Flávio Dino e Fernando Haddad, foi a uma sessão de comissão da Câmara Federal, e lá teve de ouvir o rame-rame habitual de pedidos – um deputado do Mato Grosso desagravou o peixe pacu, outro, do Tocantins, chamou o rio que dá nome ao estado de “Mississipi brasileiro” –, críticas, showzinhos, apoios.

Respondendo a uma deputada ao final da sessão, Marina lamentou a possível perda da ANA de sua pasta. “Um prejuízo enorme (…), você só vê o lado da demanda [hidrelétricas, por exemplo], não olha para o lado da oferta”, disse. “O locus certo é o ministério do Meio Ambiente.”

Seria muito ruim para o governo Lula que Marina explodisse e pedisse o boné, como já fez nos anos 2000. Ela talvez seja a principal fiadora internacional do sucesso do governo Lula. Nas viagens que Lula fez antes de assumir o cargo, como para o Cairo, na  COP-27, ele falou que o Brasil iria “voltar”, especialmente em questões de desmatamento e descarbonização, ignoradas por seu antecessor.

Numa palavra: treta.