O primeiro discurso de Lula como presidente eleito, proferido na noite de domingo (30), surpreendeu admiradores e grande parte de seus eleitores por ter sido lido. Lula, grande orador e contumaz improvisador, até fez uma “gag” para dizer que iria ficar com “cara de intelectual” ao colocar seus óculos para lê-lo. Nessa hora, pediu ainda para que sua mulher, Janja, segurasse as páginas para o “maestro”.
Se a forma surpreendeu, e o conteúdo não deixou dúvidas sobre as prioridades de seu futuro mandato. Lula novamente colocou como causa primeira atacar a fome, algo que foi vocalizado diuturnamente em sua campanha. “Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário”, disse.
Houve também acenos sistemáticos para o diálogo institucional e para formação de um governo para muito além do círculo petista. A sinalização embutida aí de apaziguamento de ânimos também foi vocalizada por Arthur Lira, presidente da Câmara Federal, que muito rapidamente endossou a lisura do processo eleitoral, chancelou a vitória de Lula e mostrou disposição para conversar com o presidente eleito.
O discurso do capo petista ainda deu grande destaque para a Amazônia. Lula falou em esforço para atingir o desmatamento zero e fez um “statement” da importância do bioma. “O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra”.
Principal consultor de política externa de Lula e ex-ministro das Relações Exteriores nos anos 2000, Celso Amorim estava no palco durante a leitura do discurso. A Amazônia é um tema central no reposicionamento do Brasil no teatro das nações, e Lula vem se referindo ao isolamento do país provocado por Bolsonaro como um dos grandes problemas a ser atacados. Amorim é peça-chave nesse campo.