Na ONU, Guterres fala para as paredes, e Bolsonaro, para bolsonaristas

Secretário-geral das Nações Unidas lamenta onda de estímulos fiscais ao combustível fóssil e pede contribuição para países vítimas do apocalipse climático, enquanto líder do Brasil olha para 2 de outubro

António Guterres e Jair Bolsonaro || Crédito: Reprodução/ONU

Os primeiros discursos da Assembleia Geral da ONU, aberta nesta terça-feira (20), em Nova York, não deverão passar para a posteridade. O secretário-geral rotativo das Nações Unidas, António Guterres, voltou a falar para as paredes, ao alertar os vinte países mais ricos do mundo (o chamado G20) que o apocalipse climático já bate à porta. Mas, para seu total desolamento, o mundo assiste a uma nova onda de estímulos para a indústria do combustível fóssil, que, como disse o português, “festeja centenas de bilhões de dólares em subsídios e lucros inesperados”.

A invasão da Ucrânia e o consequente despertar da inflação no mundo desenvolvido parece ter feito Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido esquecerem-se de seus compromissos ambientais. Guterres rogou pela criação de taxas para ajudar as nações mais expostas aos rigores do clima. “Hoje, estou pedindo a todas as economias desenvolvidas que tributem os lucros inesperados das empresas de combustíveis fósseis. Esses fundos devem ser redirecionados de duas maneiras: para países que sofrem perdas e danos causados ​​pela crise climática e para pessoas que lutam com o aumento dos preços dos alimentos e da energia.”

Jair Bolsonaro, por seu turno, voltou a seus temas de predileção – defesa da família “desde a concepção”, repúdio à “ideologia de gênero”, endividamento no passado da Petrobras –, temário engordado agora pelo que supõe ser o legado de seu governo.