“Temos que derrotar Bolsonaro”, diz ex-senador tucano Nunes Ferreira, em novo aceno ao PT

Aloysio Nunes, Doria e Bolsonaro || Crédito: Pedro França/Agência Senado/Gov-SP/Alan Santos/PR

Em reveladora entrevista ao “Estadão”, ex-ministro das Relações Exteriores de Temer desfaz equivalência entre Lula e Bolsonaro e vê governo Doria com “bons resultados em todos os índices”

Desta vez não chegou nem a ser um disparo de artilharia ligeira contra a candidatura João Doria, que, afinal, fogo “amigo” é o que não falta contra o governador paulista dentro do PSDB. Mas a entrevista dada ao Estadão nesta sexta (11) por Aloysio Nunes Ferreira, o ex-senador tucano, ex-ministro das Relações Exteriores do governo Temer e atual presidente da agência municipal paulistana de fomento, SP Negócios, não deve ter sido lida no palácio dos Bandeirantes com euforia.

Ferreira, que engrossou com gosto o antipetismo reinante entre 2015 e 2018, disse ao Bravo Matutino que é preciso reestabelecer o diálogo com “forças de esquerda como o PT”.

“Durante o processo de impeachment, o antipetismo acabou se transformando em uma segunda natureza do PSDB. Isso nos fez andar em muito má companhia. Agora, diante do desastre que foi a eleição do Bolsonaro – um desastre até previsível – e do seu governo de destruição sistemática, vem a ideia de que é preciso retomar um diálogo que houve ao longo do tempo com forças de esquerda, como o PT”, disse.

Assim como aconteceu com o senador Tasso Jereissati, Ferreira foi um dos interlocutores tucanos que se entrevistaram recentemente com Lula, no esforço do ex-presidente em viabilizar um arco de alianças de centro para sua candidatura presidencial. O ex-senador não vê a falsa equivalência feita, por exemplo, por setores do mercado entre Lula e Bolsonaro. Disse:

“Essa movimentação do Lula hoje é absolutamente legítima. É da natureza dele. O extremista dessa campanha é o Bolsonaro, e é ele que temos que derrotar. Temos que tentar tirá-lo inclusive do segundo turno.”

A excelente entrevista, conduzida pelos repórteres Pedro Venceslau e Eduardo Kattah, ainda teve essa visão sobre Doria:

“O Doria vai crescer nas pesquisas. Ele faz um bom governo. Curiosamente, muita gente que detesta o Doria por razões quase antropológicas – a identificação dele como elite paulista no imaginário – reconhece o governo dele, que teve bons resultados em todos os índices, inclusive nesse que é decisivo para o desgaste do Bolsonaro, que é a vacina.”

E, finalmente:

“Há um descontentamento com o Doria devido aos atritos que ele criou e ao seu voluntarismo na luta interna do PSDB, como essa obsessão de expulsar o [deputado] Aécio Neves [MG]. As prévias são o resultado da dissolução orgânica do PSDB e da incapacidade de ter mecanismos internos de composição para escolher um candidato. Por isso se abandonou o terreno natural, que é a convenção nacional. Tudo isso gerou ressentimentos. Mas o Doria tem feito gestos para aproximar as pessoas.”