Niall Ferguson, professor da Universidade de Harvard e um dos mais renomados historiadores da atualidade. Autor do recém-lançado Catástrofe (ed. Crítica)
Por que alcançamos tantos avanços na ciência, como a produção de vacinas em tempo recorde, mas não evoluímos como sociedade?
Nosso conhecimento científico, sem dúvida, não tem precedentes na história humana. Contudo, você pode ter os avanços científicos mais sofisticados, com Ph.Ds. conduzindo trabalhos multidisciplinares, mas se a população permanecer analfabeta, do ponto de vista científico, e suscetível ao pensamento mágico das redes sociais e teorias da conspiração, os avanços não terão aceitação pública. E é por isso que as vacinas, que têm alta eficácia e risco baixíssimo, foram rejeitadas por, pelo menos, 1/5 dos americanos. Uma segunda resposta é sobre as estruturas burocráticas que proliferam no mundo desde 1970. O estado administrativo produz planos para desastres, mas que se desintegram com o contato com a crise real. Essa combinação explica por que nosso vasto conhecimento não pode ser traduzido em respostas eficazes aos desastres quando eles acontecem. Não se trata apenas de compreender um novo patógeno, é sobre ter uma estratégia bem preparada para detectá-lo. Taiwan e Coreia do Sul mostraram que isso poderia ser feito. Os EUA e a maior parte da América Latina se saíram muito pior. Todos nós tivemos acesso à mesma ciência.
Neste sentido, como tornar as redes sociais menos perigosas?
Disjuntores. Você precisa ser capaz de isolar as fontes de contágio e excluí-las temporariamente da rede. Uma sociedade hiperconectada é altamente vulnerável ao contágio, e não apenas com os vídeos de gatos que se tornam virais – esse foi o argumento de A Praça e a Torre: Redes, Hierarquias e a Luta pelo Poder Global (ed. Crítica). Acho que agora isso é óbvio para todos. Com a ciência em rede, podemos entender melhor como limitar a propagação de uma pandemia e de uma “infodemia”, porque podemos identificar quem são os propagadores.
O próximo desastre pode ser ambiental? Somos relutantes em aceitar isso?
Acho que reconhecemos desastres reais, incluindo a possibilidade de mudanças climáticas severas. Na verdade, somos ruins em fazer algo para evitá-los. Se o movimento verde realmente se importasse com as mudanças climáticas, adotaria a energia nuclear e o gás natural como uma tecnologia de transição, enquanto as energias renováveis se tornam mais eficientes.