BEM-ESTAR ANIMAL NO CENTRO DOS NEGÓCIOS DO CAMPO

A pecuarista Carmen Perez está mudando os paradigmas da produção bovina no Brasil com adoção de boas práticas, como massagem neonatal e o fim da marca a fogo.

Movida pelo desejo de melhorar a qualidade de vida dos animais da fazenda Orvalho das Flores, no município de Araguaiana (MT), Carmen Perez mudou os paradigmas da criação bovina. De uma família do setor sucroalcooleiro, desde a infância Carmen tem uma ligação muito forte com os animais. Optou por ser pecuarista profissionalmente a partir dos 20 anos, desde que o fizesse aliando a produção à qualidade de vida dos bichos.

“Eu ficava muito incomodada cada vez que visitava a maternidade no curral e via a maneira com que os vaqueiros lidavam com os animais. Era um manejo agressivo”, lembra. “Sentia que existia uma falta de conhecimento, não só da parte deles, mas também da minha.” Foi então que decidiu estudar e, nesse processo, percebeu que havia uma maneira humanizada de lidar com o gado. Hoje, ela é reconhecida por adotar práticas de bem-estar animal (BEA) que passam por massagem neonatal, desmame lado a lado do bezerro com a mãe e o fim da marca a fogo nos bovinos – Carmen substituiu as marcações por bottons coloridos. “Minha missão é melhorar a vida dos animais e ampliar as boas práticas para fora da porteira”, diz.

De maneira simples e objetiva, BEA é o estado em que os animais se encontram quando são fornecidas todas as condições para que eles vivam em sua zona de conforto. Segundo o Farm Animal Welfare Council (FAWC), principal entidade do setor, para que tenham qualidade de vida os animais devem estar livres de medo e estresse; sede e fome; qualquer desconforto; injúrias e doenças; e para expressarem seu comportamento natural.

EMPRESAS PARCEIRAS
O conceito já é adotado por grandes companhias do setor, como a JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder do setor de proteína animal, que busca, diariamente, atender as cinco liberdades dos animais, desde o embarque nas propriedades rurais até o interior das unidades de produção. Desde 2017, a empresa mantém um Comitê de Bem-Estar Animal com objetivo de estabelecer diretrizes para que o tema esteja em constante evolução na companhia e seja compartilhado com os fornecedores de animais. A JBS possui, por exemplo, uma frota de veículos especialmente desenvolvida para melhorar a condição dos bovinos durante o transporte, com elevador para embarque e desembarque de forma mais segura, em vez de escadas. Os investimentos da empresa nessa área no ano passado foram de R$ 163 milhões, além de mais de 27 mil colaboradores terem sido treinados em BEA. E, para ratificar sua posição, eventuais violações ao Programa de Bem-estar Animal da JBS por parte de colaboradores ou fornecedores resultam em processos disciplinares que podem levar à rescisão do contrato de trabalho ou de fornecimento de matéria-prima.

“Esse é um caminho sem volta. As pessoas estão abertas, preocupadas, e as empresas conscientes de que existe uma demanda enorme no mercado”, explica Carmen, que em outubro teve o seu pioneirismo e ativismo retratados no documentário Quando Ouvi a Voz da Terra, disponível no YouTube. Gravado entre maio e julho de 2021, o filme narra a história dela e de outros quatro pecuaristas brasileiros que também são referência em promover conforto aos bovinos. “A ideia central do documentário é dizer, por meio de vozes do campo, que a prioridade é prezar pelo bem-estar animal e que isso significa tratá-los com respeito e gentileza desde o nascimento; compreender suas necessidades e conduzir naturalmente seu comportamento genuíno, como manter a natureza em harmonia, respeitando as pessoas e tudo mais que cerca a criação”, conclui.