Zé Vicente vê “pistas” de que Brasil avança na equidade racial

José Vicente || Crédito: Roberto Setton

Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares diz-se otimista com eventos de 2021, mas não reconhece qualquer diminuição na violência policial contra negros e teme pela lei de cotas

Há certas situações em que, como no proverbial desafio, olhar o copo meio cheio é questão de sobrevivência. Maneira de buscar energia para as infindáveis lutas que ainda devem ser travadas.

Nesta sexta (19), véspera do feriado que celebra o Dia da Consciência Negra, PODER Online falou com o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, incansável lutador pela equidade racial. Ele voltava do campus da Universidade de São Paulo, instituição que concedeu, em cerimônia, título de honoris causa a uma das figuras mais extraordinárias da história do Brasil, o advogado, poeta e jornalista Luís Gama (1830-1882), que, escravizado, comprou sua liberdade já adulto – o que talvez alguém hoje chamasse anacronicamente de meritocracia.

Enfim, a raríssima homenagem – segundo o reitor, a USP só concedeu esse título a um outro negro, Nelson Mandela –, se inscreve numa sequência de acontecimentos que mostra o que parece ser um novo cenário para o tema da equidade. Vicente cita ganhos institucionais no Judiciário e no Congresso Nacional, o crescimento de colunistas negros no jornal Folha de S.Paulo, o pequeno grupo empresarial que agora investe no fomento à diversidade no ambiente corporativo, a entrada de Gilberto Gil na Academia Brasileira de Letras, a presença maior de negros na publicidade.

Mas seguem os problemas da violência policial, que não acompanha, muito pelo contrário, a evolução desse cenário, e os riscos em 2022 para a renovação da lei das cotas nas universidades públicas. Ele considera o tema muito problemático – numa escala de 0 a 10, sua preocupação é “7”.

Mas vamos ao copo cheio:

“Tem algumas pistas de que tem algo novo no ar. Não tínhamos nada, temos agora alguma coisa. Não tínhamos capacidade de construir, hoje temos rudimentos de alguma construção, não tínhamos reconhecimento nenhum sobre o talento desses valorosos brasileiros, e hoje a ABL pôs um negro, a propaganda está pondo negro na tela, isso são realidades que a gente não pode nem desconhecer nem desconsiderar. Mas resolve? É só isso?. Lógico que não.”

Com uma agenda dos diabos nesta sexta, Vicente falou com o editor Paulo Vieira, desta PODER, enquanto dirigia, conforme se vê no vídeo embebido abaixo.