O partido Novo, cujo nome pressupunha uma nova forma de fazer política, voltada principalmente para uma reforma de Estado e compromisso firme com a diminuição de privilégios setoriais, sucumbiu ao bolsonarismo, que, como se sabe, não se interessa por reforma de Estado nem pela diminuição de privilégios setoriais.
Com isso, aquela que foi sua liderança mais notória, o cofundador e candidato a presidente em 2018, João Amoêdo, decidiu levar o partido para a oposição ao atual governo.
Faltou combinar com a bancada de oito deputados federais e com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, principais representantes do Novo na política institucional. Amoêdo está a pregar no deserto, como se viu na adesão de 5 desses 8 deputados à tese bolsonarista do voto impresso.
O Novo ainda enfrenta defecções de filiados, com cerca de 25% deles tendo abandonado o partido nos últimos 18 meses. Recentemente, o candidato a vice-presidente na chapa de Amôedo, Christian Lohbauer, pediu desfiliação
Curiosamente, quando mais distantes do próprio partido que idealizaram seus fundadores se posicionam, mais editorialmente produtivos eles ficam. Amoêdo tem um livro já em pré-venda pela Companhia das Letras; o engenheiro Roberto Motta, que se desligou antes mesmo das eleições de 2018, também publicou em 2021 Os inocentes do Leblon.
O nome, alusão ao bairro da elite financeira do Rio – e do escritório de Amoêdo – em que o Novo foi gestado, relata os primórdios do partido e as discussões “idealistas” de seus pioneiros.
Amoêdo comparece com Sem Atalho: Uma jornada até a política e minhas ideias para o Brasil, em que descreve bastidores da campanha de 2018, sua interlocução com a elite empresarial e deixa claro que a opção desse setor por Bolsonaro foi um movimento que em filosofia se chamaria de “negativo” – não uma escolha per si, mas em oposição ao PT.
O que certamente seus pioneiros não imaginavam é que, tendo chegado à política institucional, o partido naufragaria de maneira tão implacável.