A história de dificuldades crônicas, quase proverbiais, das instituições de cultura sobreviverem dignamente no Brasil parece encontrar um ponto de inflexão neste ano. Talvez a mais simbólica instituição artística nacional, o Museu de Arte de São Paulo conseguiu desencavar de vez seu projeto de expansão.
Ele passa pelo prédio contíguo, a metros do museu, o Dumont-Adams, de 14 andares, que agora vai se chamar Pietro Maria Bardi, em homenagem àquele que durante tantos anos foi o diretor, curador e cérebro da instituição desde que ela foi idealizada nos anos 1940 pelo maior tycoon da imprensa brasileira, Assis Chateaubriand.
O edifício, que já foi objeto de projetos de aumento de gabarito grandiosos, do naipe das promessas de Paulo Guedes, teve suas obras paralisadas por anos e quase virou a tal construção que já é ruína da música de Caetano Veloso.
Pois bem: um grupo de beneméritos decidiu matar no peito a ampliação e despejou R$ 180 mi no projeto, sem uso de instrumentos de renúncia fiscal. Agora, o prédio principal do Masp irá se conectar ao “Pietro” por uma passagem subterrânea. Nele estarão cinco andares contínuos de galerias, salas de aula, reserva técnica, laboratório de restauro, restaurante, loja e áreas de eventos. As áreas expositivas do museu aumentarão em 66%.
A previsão de inauguração é janeiro de 2024.
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O escritório de arquitetura que desde 2015 trabalha com o Masp e está por trás da reforma do “Pietro”, o Metro, tem entre seus sócios Martin Corullon, que disse a PODER Online que a relação de sua empresa com o museu é “orgânica, fluida e natural” e que, por isso, passou a conhecer “bem os problemas e as questões que o museu enfrenta e enfrentava”.
Tratar, por exemplo, o “Pietro” como um anexo nunca foi bem o caso. Prolongamento é uma palavra melhor.
Martin, que conviveu com Paulo Mendes da Rocha, um dos mais importantes arquitetos brasileiros, morto este ano, disse que “conseguiu aprender a forma peculiar de Rocha ver o mundo”.
É possível que, assim, o Masp de alguma forma esteja a receber benefícios indiretos muito positivos dessa relação.
O Metro também atua na transformação da Oficina Brennand, no Recife, em um instituição cultural mais autônoma, agora sem seu criador, Francisco Brennand, que morreu em dezembro de 2019. O trabalho, que Martin reputa como “similar ao que desenvolve no Masp”, passa por intervenções para acolher mais público e pela modernização de paradigmas de conservação do acervo.
Nesta segunda-feira (23), 19h, Corullon conversa com o diretor-presidente do Masp, Heitor Martins, e a vice-presidente, Juliana Sá, sobre a expansão. O encontro será aberto. Informe-se no site oficial do Masp, aqui.