Randolfe: “A agressão é o caminho dos covardes”

Randolfe Rodrigues || Crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado

Pedra e vidraça ao mesmo tempo, senador estrela da CPI da Covid fala a PODER sobre os ataques que recebe, irritações com colegas governistas, futuro político e sinaliza o “bafo” que vem por aí

“O Governo Federal tem violado os direitos fundamentais básicos de toda a população brasileira à vida e à saúde, além de atuar com total negligência. Os responsáveis e omissos por essa tragédia devem ser punidos por todos os crimes que têm cometido contra a humanidade”, publicou em uma rede social o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ao protocolar, em fevereiro, o pedido de abertura Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

A CPI foi instaurada, dezenas de pessoas foram ouvidas e um relatório deve ser entregue já em setembro. Eleito vice-presidente da Comissão, Randolfe diz estar focado em terminar o trabalho na CPI. Protagonista da comissão que irrita os bolsonaristas em nível “Alexandre de Moraes”, o senador é, como era de se esperar, muito atacado nas redes por sua atuação. “Lidar com críticas faz parte da política. Com Jair Bolsonaro, é passar um pouco do limite”, afirma.

Em entrevista exclusiva a PODER Online, Randolfe fala sobre os trabalhos da comissão, passa mais uma demão de críticas a Jair Bolsonaro e diz estar pronto para governar o Amapá, algo, contudo, que ele só vai pensar após a conclusão dos trabalhos da CPI da Covid.

PODER Online – Renan Calheiros disse que deve entregar o relatório da CPI em breve. O que vai constar no documento?
RR – O relatório deve ser entregue em setembro. Devemos ter um documento fatiado em três partes. A primeira, com os crimes de responsabilidade; a segunda, os tipos penais de crimes comuns; e uma terceira que deve apontar crimes de lesa-humanidade, sobretudo com os acontecimentos que ocorreram em Manaus.

PODER Online – O que incomoda mais nas sessões da CPI? Por quê?
RR – O que me incomoda mais são colegas, em uma CPI que investiga o agravamento da pandemia, defender, por exemplo, tratamento precoce sem eficácia comprovada. Isso me parece criminoso. Me incomoda muito a blindagem que colegas fazem em relação às investigações ao governo. Me incomoda ainda mais as cortinas de fumaça que tentam soltar para desviar o foco das investigações. Tem um colega que toda hora fala de uma tal de indústria da maconha [referência ao senador cearense Eduardo Girão].  O que isso tem a ver com a CPI? Outro colega governista [senador Luis Carlos Heinze] toda hora fala de tratamento precoce que deu certo em Rancho Queimado (SC) e em Porto Feliz (SP). Isso é uma mentira deslavada. Outro diz que o que construímos são narrativas [senador Marcos Rogério], enquanto o que temos são fatos. Outros insistem que temos que investigar o “Consórcio Nordeste” [Girão e Marcos Rogério], isso quando há uma decisão do STF que impede que avancemos em investigações em relação a estados. Então, são ações de cortina de fumaça, com intuito claro de desviar o foco das investigações. Incomoda, mas faz parte do jogo. Não vamos deixar de cumprir nosso serviço por conta disso.

PODER Online – Como lida com as críticas?
RR – Lidar com críticas faz parte da política, nunca fui avesso a isso. Com Jair Bolsonaro, passou-se um pouco do limite. Críticas passaram a ser agressões, ameaças, tentativas de intimidações. Essas tentativas vão da via de seus apoiadores, mas perpassa as vias institucionais. Ora o ministro da Justiça tenta usar a Polícia Federal para intimidar a CPI. Ora, é o líder do governo que tenta intimidar membros da comissão. Faz parte da circunstância de estarmos realizando uma investigação com um governo que tem vocações autoritárias, mas que não tem competência suficiente para expressar o autoritarismo. Por um governo que é nitidamente covarde, porque agressão é o caminho dos covardes. A resolução dos impasses na política é a competência virtuosa dos homens públicos. Tenho feito denúncias, pedido investigações em relação às ameaças. Mas nunca mudei meu cotidiano por causa disso. A agressão nunca teve e nunca terá capacidade de me intimidar.

PODER Online – O que pensa em relação ao Distritão?
RR – Distritão, retorno de coligações proporcionais, suprimir o dispositivo de cláusula de barreira são retrocessos político e democrático. O parlamento tem que parar de mudar as regras eleitorais por ocasião. O meu partido não alcançou a cláusula de barreira. A Rede não atuará de acordo com as circunstâncias. Não vamos mudar regras para nos beneficiar. Vamos trabalhar para a superação de cláusulas de barreiras, dos impasses. Se não superarmos, paciência. Nós estamos convencidos de que esses dispositivos são bons e necessários para a democracia. Pode ser ruim para o partido, mas é bom para a democracia, é bom para o Brasil.

PODER Online – Qual a sua previsão para as eleições presidenciais do próximo ano?
RR – A frente ampla é uma necessidade histórica, civilizatória. O Brasil não aguenta mais um ano sequer de Jair Bolsonaro. Teremos um trabalho enorme, após superar Bolsonaro para reconstruir o país, ambientalmente, socialmente, politicamente, economicamente e sobretudo reconstruir as relações pessoas que foram destruídas nesses anos de bolsonarismo.

PODER Online – Já faz planos para o próximo ano? Será candidato ao governo do Amapá?
RR – Só estou com plano de curto prazo: terminar o serviço na CPI. Tenho procurado não envolver ou misturar qualquer circunstância eleitoral com isso. Mesmo porque o trabalho na CPI é um desafio histórico. Há vários partidos políticos do campo popular que propõem e lançam minha candidatura ao governo do Amapá. Estou pronto para esse desafio se isso for resultado de uma frente política ampla em meu estado, e que se repita nacionalmente. Se esse for um desejo do conjunto dos partidos com os quais dialogo, estou pronto para esse serviço. Não tenho trabalhado em função disso, todos os meus esforços têm sido para a conclusão dos trabalhos da CPI.