Conhecido por seus murais e painéis, Athos Bulcão, junto do amigo Oscar Niemeyer, criou a identidade visual de Brasília

Athos Bulcão em frente ao painel da Igrejinha, em Brasília

Bulcão passou três anos na faculdade de medicina e seu primeiro trabalho artístico, aos 21 anos, foi como assistente de Candido Portinari

Nascido no bairro do Catete, na zona sul do Rio de Janeiro, Athos Bulcão é reconhecido por seus múltiplos talentos como pintor e gravurista. Fez inúmeras fotomontagens e, de forma muito destacada, projetou painéis e murais para grandes obras arquitetônica do modernismo brasileiro. Difícil é acreditar que, antes de se embrenhar no mundo das artes, Bulcão passou três anos na faculdade de medicina.

Seu primeiro trabalho artístico, aos 21 anos, foi como assistente de Candido Portinari no mural que decora a Igreja de São Francisco de Assis, a Igreja da Pampulha, como é mais conhecida, em Belo Horizonte. Com ele, aprendeu muitas lições importantes sobre desenho e cor. Em seguida, ganhou uma bolsa de estudos e foi para Paris fazer cursos de desenho na Académie de La Grande Chaumière.

Painel no Brasília Palace Hotel

De volta ao Rio de Janeiro, em 1950, Bulcão ilustrou catálogos e livros, como O Encontro Marcado e A Cidade Vazia, de Fernando Sabino, além de ter feito desenhos para capas de revistas de arquitetura, de discos e cenários de peças de teatro. Foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, os grandes responsáveis por sua formação, aliás. Nomes de artistas como Carlos Scliar, Giuseppe Giannini Pancetti, Enrico Bianco, Milton Dacosta, de escritores como Paulo Mendes Campos, Manuel Bandeira, Jorge Amado, Vinicius de Moraes e do paisagista Burle Marx. Foi na casa deste último que Bulcão conheceu o arquiteto Oscar Niemeyer, de quem se tornou amigo e parceiro de muitos trabalhos (em 1957, Niemeyer o convidou para participar da construção da nova capital da República).

Painel do Plenário Ulysses Guimarães

Ligadas aos espaços públicos, suas obras potencializam a arquitetura, trabalham as peculiaridades oferecidas pelo espaço projetado e suas relações com o que está ao redor. Bulcão deixou sua marca em Brasília. São quase 200 trabalhos entre murais, painéis e relevos: a Igrejinha, os edifícios do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, da Catedral Metropolitana de Brasília, palácios do Planalto, do Itamaraty e do Jaburu, entre outros. Seus azulejos, que se destacam pela modulação e pelos grafismos criados com base em formas geométricas, realçam os traços do modernismo arquitetônico e já fazem parte do cotidiano brasiliense. Para cuidar do importante acervo do mestre, um grupo de amigos e admiradores de sua obra fundou, em 1992, a Fundação Athos Bulcão, que o mal de Parkinson levou em 2008, aos 90 anos. (por Ana Elisa Meyer)