Histórica prata de Rebeca Andrade explode meritocracia

“Daianinha” é filha de empregada doméstica e iniciou na carreira por um golpe de sorte; para ela vingar, quantas outras ficaram pelo caminho?

Rebeca Andrade || Créditos: Ricardo Bufolin/CBG

O liberalismo tacanho e o partido Novo gostam de dizer que o valor da meritocracia vem acima de qualquer outro. Isso num país em que pessoas morrem de fome e frio nas ruas.

Rebeca Andrade, que acaba de ganhar a medalha de prata na ginástica artística nos exercícios combinados – ela ainda concorre em outros aparelhos ao longo das Olimpíadas e pode engordar o ineditismo de sua conquista –, é filha de empregada doméstica e tem outros sete irmãos.

Um golpe de sorte – ter uma tia funcionária pública em Guarulhos e ela executar interinamente seu trabalho num ginásio municipal de esportes –, fez com que Rebeca começasse a pular e treinar aos 4 anos.

Virou a Daianinha, em homenagem a Daiane dos Santos. Houve momentos em que, por falta de trabalho da mãe, Rebeca não tinha dinheiro para a condução. Às vezes andava duas horas para chegar ao ginásio.

A história de Rebeca, que hoje dispõe de ótimas condições para praticar o esporte de alto rendimento, disputando pelo Flamengo, paradoxalmente, vai servir para os idiotas do liberalismo fazerem ainda mais fé na meritocracia. Com trabalho, todo mundo chega lá, dirão.

Não, na verdade, com trabalho e condições igualitárias, todo mundo talvez possa chega lá. Para surgir uma Rebeca com as condições econômicas de sua família, foi preciso que outras milhares ou dezenas de milhares ficassem pelo caminho – ou nem encontrassem o caminho.

Rebeca não é a excessão que confirma a regra.

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Ao SporTV, logo depois da premiação, a atleta agradeceu a todos que a ajudaram em sua carreira e disse admirar o “psicológico” da ginasta Simone Biles, a “melhor do mundo” e que ela tomou a decisão  que deveria mesmo ter tomado ao se retirar dos Jogos. Disse estar “orgulhosa” da norte-americana.