Dizer que o parlamento brasileiro não trabalha, especialmente às segundas e sextas, é uma frase feita que não encontra exatamente respaldo na realidade. Em momentos particularmente nervosos, deputados e senadores podem até fazer sessões aos domingos, como aconteceu com a Câmara durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff.
O Senado nesta sexta-feira (25) começou a sessão de sua CPI da Covid às 14h, diferentemente do que normalmente ocorre, às 10h. Mesmo assim, as seis, sete horas em média que as sessões da CPI se prolongam certamente vão ser superadas hoje.
Os irmãos Luis Ricardo e Luis Claudio Miranda, este deputado federal (DEM-DF), aquele funcionário concursado do ministério da Saúde, são os depoentes de hoje na sessão. O deputado Miranda, segundo informou, levou ao próprio presidente da República, em 20 de março, informações que fazem supor que houve pressão e açodamento para que o departamento em que trabalha seu irmão liberasse um contrato bastante prejudicial ao erário de compra da vacina indiana Covaxin.
A sessão teve os maiores momentos de conflagração da CPI – que não foram poucos – desde sua estreia, há dois meses. O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) foi bastante assertivo em suas questões a Luis Ricardo, e o líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), passou as duas primeiras horas do encontro interrompendo com nervosismo os companheiros. Em sua vez de inquirir os convidados, fez uma longuíssima leitura de documentos provavelmente produzidos pelo governo.
Houve momentos mesmo de telecatch, com contato físico e empurrão, quando, num intervalo da sessão, o senador governista Marcos do Val (Podemos-ES) discutiu com o deputado Miranda.
Até o momento em que esta reportagem estava sendo escrita, o melhor momento da sessão foi a resposta do deputado Luis Miranda a0 senador Randolfe Rodrigues, que disse que, em seu encontro com Bolsonaro em março, o presidente mencionou o nome de um deputado – nome que Miranda se recusou a declinar por não se lembrar –, dizendo que os supostos vícios do contrato seriam “coisa” desse deputado.
O deputado Miranda, que no começo da sessão chegou a bater boca com senadores governistas, não se furtou a dizer as palavras “merda” e “foda”, adjetivos que Bolsonaro teria usado para qualificar o deputado de cujo nome Miranda silenciou.
Lá pelas tantas, apareceu no Senado o advogado Federico Wassef, o mesmo que abrigou o foragido Fabrício Queiroz, em Atibaia. Sem máscara.
O Twitter foi mais eloquente do que o deputado Miranda e conseguiu, digamos, lembrar o nome do deputado supostamente citado por Bolsonaro: Ricardo Barros, que foi ministro da Saúde de Michel Temer, líder de governo nos anos FHC e Lula e, ora veja, desde 2020 líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal.
(Atualização das 21h55: emparedado pela inquisição dura do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que falou remotamente, e pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), que falou imediatamente depois, o deputado Miranda, depois de passar seis horas dizendo não conseguir lembrar no nome do deputado responsável pelo contrato, disse: “Ricardo Barros”.