Reforma administrativa pode acabar com operador de telex, mas tema perde força no Congresso

Crédito: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

69 mil servidores atuam em funções consideradas não existentes; governistas não devem apoiar projeto, que desagrada base de Bolsonaro às vésperas de novo ciclo eleitoral

Participando de audiência pública que discute a reforma administrativa na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal nesta terça (11), o ministro da Economia, Paulo Guedes, novidade, irritou-se com algumas perguntas e saiu de lá sem externar um número importante que poderia até diminuir a resistência ao projeto no Congresso.

O número é significativo: cerca de 69 mil servidores públicos hoje atuam na estrutura federal em funções consideradas inexistentes, como o operador de telex, aparelho que deve ter perdido sua relevância quando Mario Andreazza ainda era presidenciável.

Surrealismo: a turma não pode nem ser utilizada em outro serviço, já que isso poderia configurar desvio de função.

Ao sair do compromisso na CCJ meia hora antes do previsto, Paulo Guedes foi criticado por parlamentares que disseram que o ministro “tinha medo”. Quem levantou a voz teve a palavra cortada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da comissão.

Afeito a números pirotécnicos sem qualquer embasamento na realidade, Guedes até foi parcimonioso desta vez e calculou economia de até R$ 400 milhões caso a reforma administrativa seja aprovada. “É preciso controlar a trajetória futura dos gastos. Dar meritocracia. Daqui pra frente, os salários [dos servidores] serão compatíveis com a realidade”, disse.

Embora exista a expectativa de que o relatório do deputado Darci de Matos (PSD-SC) seja entregue logo após o fim das audiências públicas, previstas para acontecer até o próximo dia 14, a pauta tem se enfraquecido até mesmo entre os apoiadores do presidente, muitos deles agentes de segurança pública que não ficariam muito felizes com um bilhete azul às vésperas de novo ciclo eleitoral.