O encerramento das operações da Ford no Brasil após 67 anos de produção de automóveis no Brasil pode dar uma forcinha para a tramitação do projeto de reforma tributária prevista.
Prevista para o ano passado e sempre citado como uma “prioridade” por Rodrigo Maia (DEM-RJ), ele vai ser apreciado pelo próximo presidente da Câmara.
Ainda que o desembarque da Ford seja reflexo de problemas de competitividade da montadora norte- americana, a decisão também revela sinais de fraqueza da economia brasileira – e indicam que o cenário de médio prazo pode ser pior do que se supunha.
Nem mesmo alguns fatores favoráveis à montadora seguraram-na aqui.
“O uso de mão de obra barata dos países em desenvolvimento, como o Brasil, e os incentivos fiscais dados por diversos governos foram insuficientes para ficarem no país”, diz o economista Floriano Gomes, professor da UnB.
Em contraponto, a especialista em finanças públicas Maria Clara de Sordis, da HC7 Investimentos, explica que “a baixa produtividade do trabalhador brasileiro e a altíssima carga tributária trazem grandes obstáculos para as multinacionais no país”.
Com tantas dificuldades, não é surpresa que as grandes montadores estejam de saída. Em dezembro, vale lembrar, a Mercedes-Benz anunciou a suspensão das operações no Brasil. A Audi também sinalizou publicamente sua vontade de parar.
Se Leonel Brizola fosse vivo, talvez coubesse a ele contrapor o discurso liberal hoje predominante do “custo Brasil”, que dificulta a vida de quem quer produzir no Brasil e que foi citado por dez entre dez comentaristas de Twitter, com o das “perdas internacionais”, que as transnacionais infligiriam aos trabalhadores brasileiros.