Gleisi Hoffmann: “A gente tem de dar uma chacoalhada na organização partidária”

Gleisi Hoffmann pt
Gleisi Hoffmann || Crédito: Ricardo Stuckert

Presidente do PT acha que é preciso tornar o PT “mais atraente” e vê nos repasses do governo federal às prefeituras e na “invisibilidade do partido na imprensa” dificuldades eleitorais da sigla, que pela primeira vez desde a redemocratização não irá administrar qualquer capital

Por Bernardo Bittar, de Brasília

O PT esteve por quatro mandatos sucessivos na presidência da República e conta com quatro governadores, todos no Nordeste, mas tem visto sua força municipal diminuir fortemente. O começo da derrocada foi em 2016, quando elegeu apenas um prefeito de capital de estado, em Rio Branco, no Acre. 

Em 2020, não conseguiu eleger nenhum prefeito de capital, embora tivesse chegado ao segundo turno em Recife e Vitória.

Há quem sempre olhe o lado cheio do copo, e assim a derrota pode não ser tão sentida, já que nas cidades médias o PT obteve relativo sucesso.

Ganhou em Diadema e Mauá, na Grande São Paulo, mas perdeu em Guarulhos; perdeu em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, numa disputa cabeça a cabeça com um oponente apoiado por Jair Bolsonaro; celebrou vitórias em Contagem e Juiz de Fora, praças importantes de Minas, mas viu a força do governador baiano Rui Costa diminuir com derrotas em Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Bahia.

A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, falou com PODER Online sobre o tamanho que o PT passou a ter a partir deste domingo.

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PODER Online – Como avalia os resultados das eleições municipais?

Gleisi Hoffmann – Foi aquém do que desejávamos, sem dúvida. Trabalhamos e organizamos as nossas frentes para ter um resultado muito melhor, que não veio. Ainda assim, os números destas eleições foram iguais aos de 2016, quando levamos um tombo muito grande. Significa que paramos de cair mas ainda não conseguimos nos recuperar. Desde o impeachment da Dilma e a prisão do Lula, existe um caldo muito contrário ao PT. Nunca tivemos espaço para nos defender na grande mídia e, por isso, vieram cada vez mais ataques e a invisibilidade do partido na imprensa.

PODER Online – O que atrapalhou?

GH – Sem dúvida, a pandemia atrapalhou muito partidos como o nosso, que têm essa ideia de campanha de rua como algo tradicional. Não pudemos fazer a pré-campanha e, quando se pôde ir às ruas, foi tudo muito curto. Isso sem falar que o governo federal entrou de cabeça com repasses de dinheiro para as prefeituras. Foram mais de R$ 56 bilhões para as prefeituras. Entre junho e setembro, R$ 45 bi. Imagina a força disso? Tanto que a renovação entre os prefeitos foi de 73%. Em 2016, foi de 46%.

PODER Online – O resultado das urnas pode levar a que medidas em 2022? 

GH – É importante dizer que não tivemos uma grande derrota. Nossos votos foram os mesmos de 2016, o problema é que eles não chegaram às grandes prefeituras. Agora é ter muita calma, analisar a situação e entender que somos fruto de um processo que veio até aqui, e o PT conseguiu resistir. Estancamos a sangria, paramos de cair. Isso significa que temos uma pedra de apoio para seguir em frente. As eleições municipais dão uma visão do tabuleiro do jogo político, mas não é determinante para 2022. É importante, mas não é a palavra final. 

PODER Online Existe algum tipo de rearranjo no partido com intuito de melhorar a performance daqui pra frente?

GH – Elegemos muitos jovens, muitas mulheres, pessoas que têm energia e força de vontade para tentar mudar. Além dessa janela, precisamos de mudanças do ponto de vista da organização. A gente tem de dar uma chacoalhada na organização partidária, que hoje tem só diretórios e não faz mais o núcleo de base, que é importantíssimo para chegar à população. Incentivar os debates é essencial para fazer o partido se tornar mais atraente. É necessário falar das questões que atingem as pessoas.

PODER Online – A militância nas redes sociais foi intensa, o que não se refletiu nas urnas. Dá para confiar na internet?

GH – Existe uma movimentação muito grande nas redes sociais, a militância estava muito ativa, com muita vontade. Tanto a nossa quanto a da esquerda como um todo. Muita participação em favor de Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PCdoB). O pessoal foi para as ruas, foi muito legal. Mas a direita tem uma força bem maior nas redes, então não foi surpresa. Tivemos uma tensão da extrema-direita muito grande. A empolgação da esquerda é real, mas não fizemos 50% a mais por causa disso. Não quer dizer que a gente não esteja presente e não esteja plantando a semente. Você não pega um tombo que machucou muito e sai caminhando no dia seguinte. Existe um processo de reconstrução. Não sou das dramáticas, que fala sobre chegar ao fundo do poço etc. Pelo contrário: digo que vai dar certo. E vai.