A incrível fuga de Carlos Ghosn do Japão para o Líbano, no fim de 2019, foi tema de um episódio recente da série documental “True Crime”, que faz sucesso no site da “Vanity Fair”, dos Estados Unidos. A atração trata de confusões judiciais nas quais os principais envolvidos geralmente são muito ricos e poderosos, e no caso do executivo brasileiro – que é acusado de ter cometido crimes financeiros no país asiático durante os anos que comandou a montadora Nissan e chegou a ficar preso por lá – sua ascensão e queda também daria um filme, de acordo com a repórter da publicação americana May Jeong, que acompanha o escândalo internacional desde seu começo.
Discípula de Dominick Dunne, o lendário colunista da “Vanity Fair” morto em 2009 que escrevia como ninguém sobre os altos e baixos dos milionários e bilionários, Jeong relata na web series tudo que descobriu até agora sobre o “mistério” envolvendo o ex-todo-poderoso da indústria automobilística, e que segundo ela pode ter tido motivações políticas. Isso porque muitos executivos japoneses da Nissan eram contra a aliança da empresa com sua concorrente francesa Renault, e por isso teriam orquestrado a saída de Ghosn pela porta dos fundos o acusando de ilegalidades.
Mas a história realmente ganhou outra dimensão quando Ghosn conseguiu escapar da prisão domiciliar que cumpria em um apartamento de luxo em Tóquio rumo ao Líbano, do qual ele também é cidadão, em plena comemoração do último Ano Novo. Segundo Jeong, a manobra arriscada teve seu pontapé quando Ghosn, àquela altura já um dos rostos mais conhecidos do Japão, se escondeu dentro de uma caixa de instrumento musical, que por sua vez foi retirada do prédio dele por um grupo de mercenários que se passaram por músicos. Quem seriam esses criminosos é algo que permanece sem respostas.
Some-se a isso o fato de que a escapada cinematográfica realizada por vias aéreas deixou os japoneses questionando a eficácia de seu sistema judicial, mais o fato de que o paradeiro de Ghosn continua desconhecido – sabe-se, no entanto, que sua casa em Beirute, capital do Líbano, foi destruída pela explosão que assolou a maior parte da área portuária da cidade no mês passado – e tem-se em mãos todos os ingredientes para um thriller hollywoodiano. “Temos os possíveis vilões e o possível ‘mocinho’”, Jeong disse em seu depoimento aos produtores do “True Crime” sobre o imbróglio. Alguma dúvida de que já deve ter gente trabalhando nisso? (Por Anderson Antunes)