Revista Poder

É hora de desapegar

Na onda das roupas second hand, o projeto Oportunidade do Bem, capitaneado por Ana Eliza Setubal, é um case de sucesso que já doou mais de R$ 5 milhões à caridade

Ana Eliza Setubal || Crédito: Paulo Freitas

Por Carla Julien Stagni
Foto Paulo Freitas

É impactante entrar no showroom do Oportunidade do Bem, em São Paulo. Duas enormes salas localizadas em dois andares de um prédio no Itaim estão lotadas de roupas, dos mais diferentes estilos e marcas, nacionais e importadas. Algo em torno de 6 mil peças. Todas chegaram ali por meio de doações de pessoas abastadas – em sua maioria –, que aderiram à ideia de praticar o desapego do que não faz mais sentido em seus closets e vida, em prol de quem realmente precisa. À frente dessa operação, Ana Eliza Setubal, advogada e empresária, habituée da alta roda paulistana, que, bem relacionada que é, se tornou uma espécie de fomentadora desse movimento. A ideia surgiu em uma das sessões de desapego do próprio guarda- -roupa, em 2019. Naquele momento ela enxergou o potencial das peças second hand de luxo, cada vez mais em alta em tempos de economia circular e empreendedorismo sustentável. Foi aí que decidiu criar o Oportunidade do Bem, iniciativa que promove a venda de roupas e acessórios de segunda mão com 100% da arrecadação destinada à caridade.

“Diferente de brechós e outros comércios de usados, trabalhamos com doação. Todas as peças são doadas, até por marcas que têm sobras de coleção e mandam pra gente produtos novos. Dessa forma conseguimos ter um preço menor que todo mundo e reverter 100% do que é arrecadado. Atualmente atendemos nove instituições que foram escolhidas com todo o cuidado e carinho”, orgulha-se Ana Eliza.

Graças a uma invejável rede de contatos, Ana tem conseguido doações de peso e coloca à venda, por valores bem abaixo da tabela, desde valiosas bolsas Hermès até peças mais simples como t-shirts brancas, passando por casaquetos Chanel, vestidos Pucci e camisas Gucci, tudo disponibilizado depois de passar por um cuidadoso controle de qualidade. “Em dois anos doamos quase R$ 5 milhões, sendo que teve a pandemia no meio disso tudo. E o céu é o limite. O propósito é atender cada vez mais entidades. É um aprendizado contínuo. Não quero ensinar ninguém a fazer nada, mas é fato que acabamos formando uma corrente em que um inspira o outro a fazer o bem”, explica a empresária, que recebe compradores de todas as partes do Brasil na sede do Oportunidade do Bem, na capital paulista. Isso sem falar no site www.oportunidadedobem.com.br, responsável por uma fatia menor do total das vendas.

“Estamos sendo conhecidos por um número maior de pessoas e vendendo cada vez mais. Sempre pensando em ações que possam atrair novos compradores e parceiros. As mulheres que são consumidoras das marcas de luxo estão começando a se interessar pelo second hand. Com o dólar nas alturas, até elas estão comprando peças seminovas”, comemora Ana, lembrando que no último evento que fizeram, em parceria com o JK Iguatemi, faturaram R$ 560 mil em quatro dias. “Todo mundo sabe fazer o bem, só que não basta saber, tem que concretizar. Existe um caminho para ser aprendido e percorrido. O desapego tem diferentes perfis: você pode desapegar de uma roupa, você pode doar dinheiro, seu tempo… Nosso objetivo é atrair cada vez mais doadoras, vender muito e ajudar mais instituições.”

“Todo mundo sabe fazer o bem, só que não basta saber, tem que concretizar”

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