Revista Poder

O TEMPO VOA, AMOR

As canções de Lulu Santos não envelhecem. Há 40 anos, o cantor e compositor que faz e acontece escreve a trilha sonora da vida de muita gente. Pronto para tocar seus hits em nova turnê comemorativa, o técnico do The Voice Brasil fala a PODER sobre empatia, autocrítica, maturidade e, claro, amor

Look total Ricardo Almeida

Por Carol Sganzerla
Fotos Jorge Bispo

Sem medo de errar, Lulu Santos é o rei do pop no Brasil”, escreveu Gilberto Gil em uma rede social ao parabenizar o amigo pelo aniversário, no ano passado. E se alguém discorda dessa afirmação, tente ouvir qualquer um de seus hits sem cantar ao menos o refrão e falhe miseravelmente. As músicas do compositor carioca atravessam gerações e têm lugar cativo na memória de muita gente, desde o lançamento de “Tempos Modernos” – canção que nomeia o seu primeiro álbum, de 1982. Para marcar os 40 anos de carreira, Lulu reuniu seus grandes sucessos em nova turnê, Alô, Base, e fez a primeira apresentação em uma live no Globoplay, em outubro.

Por trás do hitmaker, porém, sempre existiu um músico exigente, como ele mesmo explica ao repassar os anos de estrada. “Estar em cena é um crescimento, e é um crescimento baseado em autocrítica. Sempre tive dificuldade de me observar. Com o passar do tempo, fui buscando uma forma de não decepcionar a mim mesmo, de me descontrair o suficiente para sentir alegria em cena e ela transbordar para o público”, relembra. 

A presença de Lulu não só é marcante nos palcos, mas também do lado da plateia, ocupando uma das cadeiras do The Voice Brasil, reality show da TV Globo do qual é técnico desde a primeira edição, em 2012. “O maior ganho nesses dez anos de programa foi ter desenvolvido a empatia”, diz, enquanto faz um balanço de sua participação. “A nossa função é emprestar o ouvido e a cabeça para aquelas vozes, esperanças, fantasias. Estamos ali por eles e para eles. Faz você alocar mais espaço para o outro.” Mesmo para um músico do seu calibre, Lulu conta que as aparições no horário nobre deram a ele a compreensão do que é ser, de fato, uma figura pública. “Também tem a ver com o outro, como a gente é visto, o que provoca nas pessoas. Então, me dá uma sensação de responsabilidade.”

Smoking Boss

Os quase dois anos de reclusão por causa do isolamento social vieram na contramão de tanta exposição e o músico aproveitou o fato de poder ficar em casa, dedicando-se internamente à arte, a se redescobrir, se repensar, aspectos benéficos para quem sempre levou uma vida itinerante. Aos 68 anos, diz não sentir a passagem do tempo. “A maturidade tem me trazido conforto com o tempo de uso do equipamento. Estou ficando mais confortável com ele, com meu pensamento, com a minha forma de me expressar, com minhas buscas, meus anseios. Tenho procurado saciá-los no sentido de não temer um futuro em que não realizei aquilo que acho que me cabia, que é a pior forma de sentir a passagem do tempo. A maturidade tem me trazido muitos frutos”, revela.

Talvez o mais importante deles seja seu atual casamento, com o analista de sistemas baiano Clebson Teixeira, para quem compôs este ano a música “Hit”. O namoro veio à público três anos e meio atrás, causando comoção. “Não mudou nada e tudo mudou”, diz o cantor sobre assumir seu relacionamento homoafetivo. “Permaneço quem eu era, independente do ‘disclosure’. Por outro lado, acho que sou mais sincero, sobretudo com a sociedade. Era um incômodo não me colocar como sou, menos pela questão da representatividade, porque essa é decorrente, e mais por uma questão de coerência, de me sentir íntegro comigo mesmo e não temeroso”, pontua.

“Mas o ganho maior é abrir espaço para as pessoas existirem como precisam, como são. É meu direito, é nosso direito”, finaliza. “Minha extravagância sempre foi amar.” 

Blusa, calça e sapato Eduardo Guinle, saia Vanessa Almeida Atelier
Blusa e colar acervo pessoal

Styling Ale Duprat
Edição de arte: David Nefussi
Produção executiva: Ana Elisa Meyer
Produção de moda: Kadu Nunnes
Assistente de fotografia: Nathalia Atayde

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