Por Carla Julien Stagni
Jaqueline Conceição é daquelas pessoas que fazem a diferença na sociedade. Jovem, 35 anos, divorciada, mãe de dois garotos, nascida na periferia de São Paulo, ela é uma das vozes que mais reverberam quando o assunto é a emancipação política de mulheres negras por meio da educação antirracista.
Criadora do Coletivo Di Jejê, instituto de pesquisa e formação sobre questões étnicorraciais e de gênero, Jaqueline é a essência da representatividade. Justamente por ter vivido dificuldades, sentiu a necessidade de abrir um canal de informação e troca com outras mulheres como ela. Para isso, cursou pedagogia e, ao se formar, foi incentivada por um professor a seguir a carreira acadêmica. Acabou fazendo mestrado na PUC-SP. “Era a única negra na turma”, lembra a agora professora, doutoranda em antropologia social, mestre em educação, psicanalista e empresária premiada pela ONU pela relevância de seu trabalho de educação antirracista.
Com suas antenas voltadas integralmente em direção a esse propósito, Jaqueline e seu Di Jejê vão além. Uma das plataformas oferecidas pelo coletivo é destinada à formação de gestores: “Existe uma demanda por profissionais que tenham visão racial e de gênero mais adequadas às condições brasileiras. Como articular as questões de racialidade dentro do ambiente corporativo e como isso reverbera fora da empresa. Tem coisas que não são mais aceitáveis”, explica ela, que já trabalhou com multinacionais, entre elas, Google e Avon.
Em um país com população predominantemente negra como o Brasil em que cargos de liderança são ocupados em sua maioria por brancos, é fundamental que as pessoas procurem atualizar seu conhecimento e entendam como o chamado “privilégio branco” contribui para a desigualdade social. “Só vamos ser livres quando pudermos conhecer nossa própria história, incluindo aí os brancos, porque nossa história é preta, africana, indígena”, pontua.
Recentemente, durante a pandemia, Jaqueline sentiu que o coletivo precisava de ajustes. Para alcançar seu projeto maior que é transformar o Di Jejê em uma universidade, ela decidiu comercializar o conteúdo da plataforma em esquema de assinaturas e está lançando uma campanha de financiamento coletivo. A meta é oferecer até mil bolsas para mulheres negras.
“Meu maior público sempre foi de mulheres negras, que se deparam na universidade com essa ausência da história negra. De Erika Hilton a Taís Araújo, várias foram minhas alunas”, conta. “Comecei tudo isso por necessidade de ser escutada. Quando percebo que é uma necessidade coletiva, me dá orgulho. Há sete anos estou colocando água nessa plantinha para ela virar um baobá, e um baobá demora anos para ficar grande.”