Revista Poder

A VIDA COMO ELA É

O jornalista João Wainer quer contar no cinema histórias que viveu em mais de duas décadas de jornalismo diário.

Por: Luís Costa
Foto: Ale Ruaro

João Wainer tinha apenas 19 anos quando, já repórter da Folha de S.Paulo, ouviu do cineasta Cacá Diegues um conselho. “Queria fazer cinema e ele me recomendou ficar no jornalismo mais tempo, para ver o mundo como ele é de verdade”, lembra Wainer, hoje com 44. O rapaz seguiu a ideia e, mais de duas décadas após uma sólida carreira na imprensa, assina enfim o primeiro longa de ficção.

Wainer acaba de entrar para o time da produtora TX, ao lado de Camila Villas Boas e do irmão Roberto T. Oliveira, com quem já fez dobradinha em documentários. O drama 4×4, filmado em 2018 e previsto para sair no segundo semestre, é também a primeira ficção da produtora.

O filme é uma adaptação do roteiro do argentino Mariano Cohn, que rodou o longa no país vizinho em 2019. A premissa é a mesma: um ladrão (no Brasil, vivido por Chay Suede) arromba um carro, tenta levar o que encontra, mas quando vai sair percebe que está preso. Ele é pego por uma armadilha do dono do veículo (Alexandre Nero), que inicia um jogo de tortura psicológica.

“O filme é sobre esse momento de ódio. Um cara cansado de ser roubado e que decide fazer justiça com as próprias mãos. Ele escolhe aleatoriamente um ladrão e resolve pôr para fora o ódio que sente de muitas coisas”, explica Wainer.

O diretor trouxe das ruas para a ficção o olhar de duas décadas de jornalismo diário. “Eu viajei o mundo, vi tragédias, vitórias, pessoas morrendo, nascendo. Na hora de filmar, isso me serviu para construir os personagens”, diz.

Wainer começou aos 16 anos no Jornal da Tarde, foi assistente do fotógrafo Bob Wolfenson, passou pelo sensacionalista Notícias Populares. Na Folha de S.Paulo, foi repórter fotográfico, editor de imagem e criador do projeto TV Folha. Ainda no jornal, começou a tocar os projetos pessoais, como o documentário Pixo (2009), que mostra o cotidiano de pichadores em São Paulo. Wainer deixou o jornal em 2015 e trabalhou com séries documentais, videoclipes e publicidade.

Agora, com a bagagem de uma vida nas ruas, projeta novas ideias na ficção. “Há muita história que vivi e quero contar daqui pra frente”, diz o diretor. Entre elas, a da facção criminosa PCC (sobre a qual já filmou série documental para o UOL), histórias que conheceu no Carandiru e do extinto Notícias Populares. “Quero transformar em ficção uma parte considerável de experiências que vivi na linha de frente da notícia”, revela.

 

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