Revista Poder

A REALIDADE DO FUTEBOL-EMPRESA NO BRASIL, POR AMIR SOMOGGI

Crédito: Getty Images

Por Amir Somoggi*

O esporte de alto rendimento exige a profissionalização de sua administração. As grandes ligas dos Estados Unidos como NFL e NBA e as europeias, como Premier League e LaLiga, tiveram há tempos um marco regulatório para a gestão dos times enquanto o Brasil, até hoje, não encontrou uma legislação que acelere a transformação dos clubes de futebol em companhias – desde 1993, e com mais intensidade a partir de 1998, já se fala sobre isso por aqui, mas sem nenhuma bola dentro.

Na Europa, o início da década de 1990 mudou para sempre a gestão dos clubes. Se hoje as ligas e seus times são gigantescos economicamente, tudo se deve ao modelo empresarial da sua gestão no qual praticamente todos os clubes são empresas – é comum times terem ações negociadas em bolsa, como o Manchester United e a Juventus.

A visão de um modelo empresarial foi colocada em prática com a profunda reestruturação vivida pelo futebol inglês e trouxe consequências diretas nos principais mercados europeus. Cada país criou leis adequadas ao que de mais moderno estava sendo vivido no mundo empresarial. As mudanças visaram adequar o esporte, que vivia uma gestão amadora, em algo profissional, nos moldes das grandes empresas. Raríssimas são as exceções, como os casos de Real Madrid e Barcelona, que se mantiveram como associações sem fins lucrativos e mesmo assim seguem em alta. 

Holdings multinacionais também fazem parte. Segundo dados da Uefa, a associação europeia de futebol, 46% dos times são de proprietários de fora do continente, especialmente EUA, Ásia e Oriente Médio. O Fenway Sports Group, dos EUA, por exemplo, dono do Liverpool e do Boston Red Sox de beisebol da MLB, apresentou valuation de US$ 7,5 bilhões. Já o City Football Group, holding do Manchester City e mais nove times pelo mundo, foi avaliado recentemente em US$ 5 bilhões. 

Enquanto isso no Brasil os clubes são entidades sem fins lucrativos, com baixa capacidade de atrair investimento, especialmente recursos de investidores internacionais. Atualmente há dois projetos de lei que tratam dos clubes empresa no país. Nos dois casos as leis cometem as falhas de suas antecessoras (Timemania e Profut) e não resolvem a péssima gestão onde clubes devem quase R$ 10 bilhões – 40% para o governo federal. Devem também para jogadores, treinadores, bancos, fornecedores e uma lista gigantesca de credores.

Mesmo assim é possível fazer seu valuation. Segundo estudo publicado pela Sports Value em dezembro de 2020, os Top 30 times do Brasil somados valiam R$ 25 bilhões, cerca de US$ 5 bilhões – Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Internacional encabeçam a lista dos mais bem avaliados economicamente. Os números modestos mostram claramente como a má gestão, falta de boas práticas de administração, ausência de compliance e ESG foram preponderantes para nosso fracasso administrativo.

O marco regulatório do clube empresa no Brasil deve seguir pelo caminho do modelo de gestão saudável e eficiente, obrigando que as novas companhias sigam regras rígidas para não sofrerem punição esportiva severa, como rebaixamentos por má administração. E junto com o projeto de clube empresa, a criação da Liga Brasileira, com os 20 times da Série A e 20 times da Série B, independentes da CBF e federações estaduais. Uma potência empresarial, com 40 companhias bem geridas. A NBA é assim, a NFL e Premier League também. Por que não no país do futebol? 

 

*Amir Somoggi é administrador de empresas pós-graduado em marketing esportivo, sócio da Sports Value e profundo estudioso da Football Industry da Europa

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