Revista Poder

O QUE MUDA QUANDO UMA MULHER NEGRA SE TORNA MEMBRO DE UM CONSELHO?

Créditos: Getty Images

Por Lisiane Lemos*

Quando falamos de diversidade e equidade dentro das empresas, significa que estamos buscando por um ambiente e uma cultura mais ricos de opiniões e vivências, consequentemente mais inovador e frutífero sob uma ótica financeira, como traz a pesquisa Diversity Matters, desenvolvida pela McKinsey & Co. A proposta não é uma novidade quando se trata de mulheres. Há décadas, estamos galgando espaço nos mais diferentes níveis e ecossistemas do mundo corporativo, mas, ao olharmos especificamente para as mulheres negras, sabemos que muito ainda precisa ser feito. E muitas de nós temos nos movimentado para mudar essa realidade, com o propósito de impactar cada vez mais mulheres, mulheres negras e a população em geral.

Empresas com mulheres em seu conselho possuem um maior componente de diversidade para a tomada de decisões relevantes. Quanto maior a uniformidade de pensamento em um conselho, maior a probabilidade de uma decisão equivocada, que leve em conta visões parciais do problema ou situação – o conhecido problema do Groupthink. É fundamental que o conselho conheça realidades diferentes, como a de mulheres negras, e, para isso, a palavra de ordem é representatividade. Da base ao topo. Mas estamos sendo consideradas para todos os cargos disponíveis na empresa?

O fato é que hoje a média de mulheres nos conselhos de administração das 100 maiores empresas listadas na bolsa ainda é de ínfimos 10%. Nesse contexto, iniciativas como a que cocriamos, o Conselheira 101, programa focado na inclusão de mulheres negras nos conselhos, fortalecem o movimento em prol da equidade na governança corporativa. As participantes escolhidas a partir de expertises e experiências profissionais necessárias para ocupar as diferentes cadeiras nos conselhos provam que existem, sim, profissionais preparadas e o que falta são os conselhos expandirem o network para conhecê-las. O programa também propõe congregar mulheres brancas em conselhos e/ou posições de liderança com negras que estão nessa jornada, evidenciando que a luta é da sociedade. Sendo uma grande conquista que essas profissionais trabalhem juntas por um objetivo maior.

Com o assunto em pauta e o surgimento de oportunidades, mulheres negras estão ganhando visibilidade, fortalecendo a autoestima e ocupando espaços. Temos outros exemplos para a história do país, como a recente nomeação de Rachel Maia para o conselho de administração do Grupo Soma, dono das marcas Farm e Animale, e que já há alguns anos atua como presidente do Conselho Consultivo do Unicef; Cristina Pinho, conselheira da Ocyan; e Solange Sobral, recentemente nomeada para o Conselho de Administração da Unidas.

A mudança não ocorrerá do dia para a noite, mas já é possível criar um futuro mais diverso, com mulheres no poder, reconhecendo a importância que têm para o mercado, para os conselhos, organizações, para a sociedade em geral e para a história deste país, em um momento em que se fala cada vez mais de profissionais com habilidades de pensar o futuro.

*Lisiane Lemos é uma das fundadoras do Conselheira 101, programa que incentiva à presença de mulheres negras em conselhos de administração. Marienne Coutinho, Ana Paula Pessoa, Graciema Bertoletti, Elisangela Almeida e Leila Loria, cofundadoras da iniciativa, colaboraram para o artigo

Sair da versão mobile