Revista Poder

Nina Silva e o desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor

Crédito: Getty Images

Por  Nina Silva*

Trabalho na área de tecnologia há 20 anos e na última década tenho descortinado o mundo da transformação digital. Lembro que vários projetos das consultorias de alta performance em que atuei foram negados por tubarões do mercado que não viam que a era digital é um caminho sem volta.

Um levantamento do Sebrae analisou o impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios: de acordo com a pesquisa, 42% dos empreendedores participantes fizeram dívidas ou empréstimos e estão com o pagamento dessas obrigações financeiras atrasado.

A população negra é a parcela que mais abre negócios no país, mas é também a que possui faturamento mais baixo. Segundo o estudo Global Entrepreneurship Monitor de 2017, 51% dos empreendedores brasileiros são negros, mas eles correspondem a apenas 1% dos pequenos negócios que lucram de R$ 60 mil a R$ 360 mil.

A transformação digital pode ser a solução ou a aniquilação desse tipo de empreendimento, que possui mais facilidade de digitalização por já operar num caos e sem legado sistêmico.

No entanto, são os que não possuem recursos para realizar essa inserção digital de maneira estruturada.

Mesmo quando temos um momento de queda, são as empresas do comércio eletrônico que continuam em valorização e que vêm nadando de braçada no redemoinho da crise com valorização de 80% ao ano, como Magalu, B2W e Via Varejo. Sim, empresas que estão ligadas diretamente ao varejo digital e que foram inovadoras em implantar processos e laboratórios para pensar na experiência dos seus consumidores, parceiros e colaboradores pelo digital.

É sabido que ambientes tecnológicos podem propiciar mais flexibilidade e eficiência até mesmo para os microempreendimentos, mas como trazê-los para essa realidade?

Uma oportunidade inicial para esses grupos são os marketplaces criados no conceito de community building (grupos de indivíduos que possuem interesses comuns e que, unidos, podem movimentar ações com impacto social, muita das vezes movidos a um propósito).

Há três anos que o Movimento Black Money, hub de inovação tecnológica para autonomia da população negra, do qual sou uma das fundadoras, vem instrumentalizando afroempreendedores para estratégias digitais.

Em março de 2020, a pandemia nos pegou prevenidos – foi lançado o Mercado Black Money, um marketplace de venda de produtos e serviços exclusivos de lojistas negros. Além de uma plataforma de e-commerce segura, os empreendimentos negros encontram e-books e artigos para gestão de negócios, uma comunidade de mais de 100 mil pessoas que transitam em nossas redes à procura da prática do black money e do fortalecimento da luta antirracista, além de outros 600 lojistas que podem construir pontes entre negócios e fomentar cadeias produtivas mesmo nesse momento de crise.

Acredito que a era digital é a revolução que pode construir ou derrubar castelos, basta colocarmos estruturas nos espaços e grupos onde investimentos intencionais edificarão novos modelos de negócios pautados em oportunidades e não escassez.

Seguimos vendo e apoiando novos espaços sendo erguidos em bases coletivas pautadas em propósito, reequilíbrio de poder e, por que não, lucratividade.

 

*Nina Silva é especialista em inovação e tecnologia e uma das fundadoras do Movimento Black Money, um agente de desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor

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