Por Aline Vessoni
Fotos Maurício Nahas
Com uma carreira sólida também no drama – atuou em longas como Bicho de Sete Cabeças e Meu Nome Não É Johnny –, o ator Luís Miranda não se incomoda em ter o nome associado ao humor. Independente do gênero, arte, para ele, é contestação.
Fazer comédia pode parecer fácil. Afinal, rir é uma coisa que todo mundo gosta. Mas não é bem assim, como desmistifica o ator Luís Miranda, 49 anos, conhecido sobre tudo por papéis hilários nas telas e palcos: teve o Moreno de Sob Nova Direção, o Pajé Murici em A Grande Família, mas impossível era não gargalhar até às lágrimas escorrerem com seus personagens do Terça Insana.
Com a Dona Edith, por exemplo, personagem inspirado em sua própria mãe, Miranda faz um estereótipo das mãezonas superprotetoras e da dificuldade de alimentar os filhos nos lares mais simples. É um retrato cômico, porém sério, e sua maneira de trazer à baila assuntos poucos conhecidos pelas classes abastadas. “A minha comédia está muito ligada a uma crítica social. Quando eu faço esse tipo de humor, quero problematizar a Barbie preconceituosa que lutou para tirar o PT [Partido dos Trabalhadores], mas que não se comove com o assassinato de um pai de família pobre, preto e periférico, com 80 tiros cometido pelo Exército do país”, desabafa, em referência à ação que matou o músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, em abril no Rio de Janeiro.
Fazendo dupla com Mateus Solano, na terceira montagem brasileira de O Mistério de Irma Vap, Miranda diz que só aceitou o papel ao se assegurar com o diretor Jorge Farjalla que a peça ganhasse uma releitura contemporânea. Afinal, “o Brasil de hoje não enfrenta os mesmos problemas de quando [Marco] Nanini e Ney [Latorraca] encenaram”, conta. Um tremendo sucesso, por sinal: permaneceu 11 anos ininterruptos em cartaz. A nova versão, que também está em alta, critica assuntos atuais como a reforma da previdência e os cortes na Lei de Incentivo à Cultura, agora não mais Lei Rouanet o nome foi deixado de lado pela comunicação oficial do governo. “Precisávamos dar uma leitura da sociedade atual e não subir no palco com os mesmos paradigmas encarados por Nanini. Como eu e Mateus somos um negro e um branco, era preciso também abordar essa calamidade racial que o país está vivendo”, revela Luís Miranda que, entre outros papéis, também encara a governanta negra que é humilhada pela dondoca branca, interpretada por Solano. A única coisa que não mudou da primeira para a terceira versão de O Mistério de Irma Vap foi a boa receptividade do público. Sucesso total. Como dizem nas coxias: Merda!
“Minha comédia está muito ligada à crítica social. Quando faço esse tipo de humor, quero problematizar”
Styling: Cuca Ellias (ODMGT)
Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT)
Produção executiva: Ana Elisa Meyer
Produção de moda: Jaqueline Cimadon
Assistentes de fotografia: Bruno Guimarães e Deborah Freitas