Por Agenor Duque
O mundo caminha para o colapso climático — e um dos seus maiores financiadores parece estar recuando. Em uma decisão surpreendente, a Breakthrough Energy, organização liderada e financiada por Bill Gates, anunciou uma demissão em massa que atingiu em cheio as frentes mais sensíveis de sua atuação: foram desligadas todas as equipes de políticas públicas nos Estados Unidos e Europa, além dos responsáveis pelas parcerias com organizações ambientais.
A medida, confirmada por veículos como Bloomberg e Reuters, afetou cerca de 20% da equipe global e foi tratada internamente como uma “reestruturação estratégica”. Mas o corte acende um sinal de alerta sobre o grau de comprometimento do bilionário com a pauta climática.
Criada em 2015, a Breakthrough Energy nasceu com a promessa de acelerar a transição energética global por meio de investimentos em tecnologia limpa. Em poucos anos, tornou-se referência mundial em inovação climática, com apoio a startups e influência direta sobre políticas públicas. Agora, sem suas equipes de articulação política, resta a dúvida: Gates está mesmo disposto a continuar liderando essa agenda?
A organização afirma que o foco, daqui em diante, será em soluções “confiáveis, acessíveis e escaláveis”. Em nota oficial, a Breakthrough reforça que “o compromisso com a energia limpa permanece intacto”, mas evita detalhar os motivos do recuo no campo institucional.
Analistas ouvidos pela imprensa internacional não escondem a preocupação. “A filantropia climática não pode funcionar como investimento de risco. Essa mudança sinaliza uma fragilidade preocupante em um momento em que o planeta exige decisões firmes”, declarou à Reuters um especialista ligado à ONU.
Na prática, a saída de Gates do campo da política pública significa menos pressão sobre governos e menos protagonismo nos fóruns internacionais. E isso num momento em que o mundo enfrenta uma escala de desastres naturais, aumento nas emissões e impasses regulatórios.
O episódio também reacende um debate urgente: até onde vai o compromisso dos bilionários com o clima? E mais — é saudável depender tanto de figuras individuais para liderar agendas de interesse coletivo? “Precisamos de constância. A emergência climática não pode ser tratada como um modismo de elite”, disse uma pesquisadora da London School of Economics ao The Guardian.
Gates ainda não se pronunciou sobre os cortes. Em declarações anteriores, reforçou seu foco em tecnologias limpas para países em desenvolvimento. Mas o silêncio, neste momento, fala alto. Para muitos, soa como uma saída silenciosa de cena, em pleno terceiro ato da crise climática global.
O futuro da Breakthrough Energy — e do papel de Gates na pauta verde — permanece nebuloso. O planeta, no entanto, continua girando em direção ao ponto de não retorno.
Bill Gates tornou-se uma das vozes centrais no debate climático. Seus investimentos moldaram políticas e impulsionaram soluções energéticas. Agora, sua decisão de recuar gerou repercussão global.