Morando tenta passar imagem de “carnavalesco”, mas acabou com a festa em São Bernardo

Depois de “enterrar” escolas de samba e blocos, Morando, agora em São Paulo, muda de postura

orlando morando
Foto: Reprodução / Redes sociais

Por Jair Viana

 

Em São Bernardo do Campo (ABC), a população comemora o retorno do Carnaval após oito anos de um veto imposto pelo ex-prefeito Orlando Morando. Ele extinguiu os desfiles na avenida e cortou o apoio às festividades, mas agora ressurge na cena política como secretário de Segurança Pública da capital paulista, desempenhando um papel que muitos classificam como um “espetáculo de incoerência”.

Durante seu mandato na Prefeitura de São Bernardo (2017–2024), uma das primeiras medidas de Morando foi eliminar qualquer incentivo ao Carnaval. Blocos de rua e escolas de samba, pilares da cultura local, tiveram recursos cortados e espaços negados. Entre 2017 e 2023, a cidade viu desaparecer eventos como o Bloco do Sapo, referência cultural desde os anos 1980, e a Acadêmicos do Baeta, escola que, por três décadas, levou o samba-enredo às avenidas.
O impacto foi mais do que uma simples ausência de festividades — foi um golpe na identidade cultural da cidade.
“Escolas fecharam, artistas migraram, e o que restou foi um vácuo”, denuncia Ana Lúcia Fernandes, presidente da Associação Cultural de São Bernardo.
Mudança de postura
Agora, na capital paulista, onde assumiu a Secretaria de Segurança em janeiro deste ano, Morando adota um discurso contraditório. Em vídeos oficiais, aparece sorridente ao lado de foliões, elogia blocos e participa de cerimônias de abertura do Carnaval. A mudança de postura não passou despercebida pelos carnavalescos.
O ex-prefeito age, segundo observadores, como se sempre tivesse sido um defensor da cultura popular. No entanto, em São Bernardo, foi o responsável por sufocar o Carnaval.
“Aqui, ele não tem poder para repetir o mesmo projeto”, critica Carlos Drummond, integrante do bloco Vai Quem Quer, de São Paulo.
Usando a cultura a seu favor
Moradores de São Bernardo apontam que a nova postura de Morando faz parte de uma estratégia de imagem. Sem poder interferir na cultura da capital, ele se aproveita do sucesso do Carnaval para se promover.
“Quem não pode mandar, obedece e se apropria do sucesso alheio”, analisa Mariana Torres, socióloga da USP.
Mas os foliões não se esquecem. Para eles, cultura não é um privilégio, é um direito.
“O povo de São Bernardo provou que, mesmo asfixiado, não se cala”, afirma Rogério Silva, coordenador do Bloco da Resistência, que reuniu 20 mil pessoas neste ano.