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Denúncias de abuso infantil no Telegram disparam e expõem falha na moderação

Denúncias de abuso infantil no Telegram disparam e expõem falha na moderação

Estudo revela aumento de 78% em denúncias de abuso infantil no Telegram | Imagem: Reprodução / X @MoonKing___

Uma pesquisa recente da SaferNet revelou um aumento preocupante no número de grupos e canais que compartilham conteúdo ilegal no Telegram. Entre o primeiro e o segundo semestre de 2024, as denúncias sobre abuso e exploração infantil na plataforma cresceram 78%. O levantamento será apresentado nesta terça-feira (11), durante o Dia Internacional da Internet Segura, em um evento na cidade de São Paulo.

Crescimento alarmante preocupa autoridades

A investigação mostra que a situação piorou nos últimos meses. O número de usuários que participam desses grupos subiu de 1,25 milhão para 1,4 milhão, revelando que a rede criminosa se expande rapidamente. Além disso, muitos desses conteúdos são comercializados dentro da própria plataforma, com pagamentos realizados até mesmo por criptomoedas.

O presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares, criticou a falta de ação da empresa. “Estamos diante de um problema em larga escala. O Telegram continua operando sem transparência e sem um sistema de moderação eficiente“, afirmou. Segundo ele, centenas de grupos seguem ativos, mesmo após denúncias.

Grupos clandestinos funcionam sem moderação

O levantamento da SaferNet identificou mais de mil grupos e canais envolvidos em crimes digitais, um aumento de 19% em relação ao semestre anterior. Entre esses, 349 continuam em funcionamento, sem nenhuma restrição por parte da plataforma.

A investigação também revelou que os criminosos utilizam moedas virtuais para vender os materiais ilegais. O Telegram lançou sua própria moeda digital, chamada “estrelas”, em 2024. Parte das transações ocorre por meio dessa ferramenta, o que dificulta ainda mais o rastreamento das atividades ilícitas.

Outro ponto crítico é que a empresa não tem registro no Banco Central do Brasil e utiliza provedores de pagamento estrangeiros, incluindo instituições na Rússia, Ucrânia e Hong Kong. Algumas dessas empresas já foram sancionadas internacionalmente por permitir transações ilegais.

Telegram se defende, mas falhas persistem

Após a repercussão do estudo, o Telegram divulgou uma nota alegando que tem “política de tolerância zero” contra pornografia infantil. A empresa afirmou que usa inteligência artificial e denúncias de usuários para moderar conteúdos impróprios.

Segundo a plataforma, 18.907 grupos e canais foram removidos recentemente. No entanto, especialistas alertam que isso não tem sido suficiente. “Embora o Telegram anuncie medidas, os dados mostram que o problema persiste. O conteúdo ilegal continua circulando por meses sem moderação”, destacou Thiago Tavares.

Outro problema é a falta de transparência. O relatório da plataforma não detalha quais países tiveram grupos removidos, nem se houve ações específicas no Brasil. Especialistas acreditam que a empresa prioriza mercados onde há mais fiscalização, deixando outros países mais vulneráveis.

Como denunciar

O Telegram permite que usuários denunciem conteúdos ilegais diretamente na plataforma. Para isso, basta pressionar e segurar a mensagem, selecionar “Denunciar” e escolher o motivo apropriado.

Além disso, denúncias podem ser feitas através da Central Nacional de Denúncias da SaferNet Brasil, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal. Quem identificar qualquer suspeita de crime pode acionar o Disque 100, canal do governo voltado à proteção de crianças e adolescentes.

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