Revista Poder

Barra Funda vira cemitério de gatos abandonados após demolições

Moradores de Barra Funda abandonam mais de 20 gatos, incluindo filhotes e gatas prenhas, em meio a demolições e falta de alimento

gatos abandonados na Barra Funda

Foto: Acervo

Na Barra Funda, situada na zona oeste de São Paulo, a comunidade local enfrenta uma grave crise relacionada ao abandono de animais. Mais de 20 gatos, incluindo adultos não castrados, filhotes e gatas prenhas, foram deixados para trás por moradores que se mudaram da área.

Com a recente aquisição do terreno e a consequente demolição das casas, os felinos em situação vulnerável lutam para sobreviver em um ambiente hostil. A escassez de alimentos e o crescimento descontrolado da população felina têm gerado consequências trágicas, com muitos animais perecendo entre os escombros e o lixo acumulado. O cenário se agrava ainda mais com a previsão de novas demolições na região.

O abandono de animais é tipificado como crime no Brasil, classificado como uma forma de maus-tratos que pode resultar em penalidades que variam desde multas até cinco anos de reclusão, especialmente quando implica sofrimento severo ou morte dos animais envolvidos.

Nas proximidades, uma sucata tem servido como abrigo improvisado para alguns gatos, que enfrentam condições de vida perigosas devido à movimentação constante de máquinas pesadas e resíduos. A situação é crítica, com relatos de tragédias que incluem a morte de ninhadas inteiras sob os destroços.

Os proprietários da sucata, que optaram por manter-se anônimos, informaram que o edifício onde operam também será demolido. Embora expressassem preocupação com o futuro dos gatos na área, eles não dispõem de soluções imediatas para o dilema.

Em resposta à crise, residentes locais têm se mobilizado para prestar assistência aos felinos abandonados, fornecendo alimentos e realizando resgates. Essas iniciativas são realizadas com recursos limitados e sem um abrigo adequado onde os animais possam receber cuidados apropriados. Ana Frederico, voluntária engajada nas ações de resgate, declarou: “É fundamental retirar esses animais do local e garantir que recebam tratamento adequado. Não podemos depender apenas do Centro de Zoonoses; eles necessitam de hospitalização e exames específicos.”

A veterinária Letícia Penteado Gaspar, especialista em felinos com duas décadas de experiência em resgates e trabalhos com ONGs, alertou sobre os perigos do crescimento desenfreado da população felina e as potenciais doenças que podem ser disseminadas entre eles. “Cada fêmea pode ter até quatro ninhadas anualmente e os filhotes começam a se reproduzir entre cinco e seis meses. Portanto, uma colônia inicial de 20 gatos pode rapidamente transformar-se em até 700 em apenas um ano“, explicou Letícia.

A profissional ressaltou ainda que machos não castrados têm a capacidade de fecundar fêmeas fora da colônia, exacerbando o problema do abandono e a propagação de doenças graves como o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e a leucemia felina (FeLV), ambas altamente contagiosas entre os gatos.

Letícia enfatizou a necessidade urgente de resgates e conscientização sobre a importância da castração e posse responsável. “Animais que têm acesso à rua estão vulneráveis a doenças, atropelamentos e maus-tratos“, advertiu. Para enfrentar essa complexa questão, é crucial implementar programas de castração tanto para machos quanto para fêmeas dentro da colônia.

A Prefeitura de São Paulo ainda não divulgou informações sobre eventuais planos para auxiliar esses animais abandonados. Após uma abordagem da equipe de reportagem, fiscais visitaram a área; no entanto, a assessoria de imprensa municipal afirmou estar aguardando orientações da equipe técnica sobre o assunto.

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