Revista Poder

Os bastidores da ausência de Lula na cerimônia de posse de Trump

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Agenor Duque

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi convidado para a posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que ocorrerá no dia 20 de janeiro. O Brasil será representado pela embaixadora Maria Luiza Viotti, uma escolha protocolar que reforça o distanciamento entre os dois governos. A ausência de um convite ao chefe de Estado brasileiro levanta questionamentos sobre os impactos políticos e econômicos dessa exclusão.

O distanciamento entre Lula e Trump

Diferentemente de posses anteriores, em que os chefes de Estado estrangeiros geralmente não comparecem e são representados por seus embaixadores, Trump quebrou essa tradição e convidou alguns líderes alinhados com sua visão política, como Javier Milei (Argentina), Giorgia Meloni (Itália) e Nayib Bukele (El Salvador). A exclusão de Lula da lista de convidados sugere um claro desinteresse por parte do republicano em manter proximidade com o governo petista.

O distanciamento entre os dois já era esperado, dado o histórico de atritos. Durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos, Lula manifestou apoio à candidata democrata Kamala Harris, a quem chamou de “a escolha mais segura para manter e fortalecer a democracia”. Sua proximidade com o governo democrata de Joe Biden e seu histórico de críticas a Trump podem ter pesado na decisão do novo governo norte-americano de não o convidar.

Polêmicas internacionais e isolamento diplomático

Outro fator que pode ter contribuído para a ausência de um convite a Lula são suas declarações controversas em temas geopolíticos. O presidente brasileiro tem um histórico de relativização de regimes autoritários, como o Irã, onde o governo impõe severas restrições e violência às mulheres. Lula também manteve uma postura ambígua diante da guerra entre Rússia e Ucrânia, chegando a sugerir que resolveria o conflito com uma conversa informal entre Putin e Zelensky, o que foi amplamente criticado pela comunidade internacional.

Além disso, sua relação amistosa com o tirano Nicolás Maduro, da Venezuela, também gerou desconforto entre líderes democráticos da América Latina. Mesmo após denúncias de fraude eleitoral e repressão política no país vizinho, Lula continuou apoiando o governo de Maduro e defendeu a reaproximação do regime venezuelano com organismos regionais. Essa postura contribuiu para a piora da relação entre Brasil e Argentina, já que Javier Milei, crítico feroz do chavismo e do socialismo, mantém um posicionamento totalmente oposto ao do petista.

A deterioração das relações diplomáticas não se limita aos Estados Unidos e à América do Sul. O Brasil também enfrenta dificuldades com a União Europeia devido à falta de avanços no acordo comercial entre o Mercosul e o bloco europeu. As preocupações ambientais e políticas dos europeus em relação ao governo Lula têm dificultado negociações e colocado o país em uma posição desfavorável no cenário global.

Impactos econômicos e políticos

A ausência de Lula na posse de Trump não se trata apenas de uma questão diplomática, mas pode ter repercussões econômicas. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2023, o comércio entre os dois países movimentou bilhões de dólares, e um distanciamento entre os governos pode prejudicar investimentos e acordos futuros.

Além disso, a relação com o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, a Argentina, também não está em bons termos. Desde que Javier Milei assumiu a presidência, não houve encontros oficiais entre os dois líderes, evidenciando um esfriamento nas relações entre os países vizinhos. Com um cenário econômico já desafiador, incluindo inflação persistente e necessidade de venda de reservas internacionais, o Brasil pode enfrentar ainda mais dificuldades se continuar isolado de importantes mercados globais.

Bolsonaro e o convite para a posse

Enquanto Lula ficou de fora da lista de convidados, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ter recebido um convite oficial para a posse de Trump. No entanto, sua participação ainda depende da autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para a liberação de seu passaporte. Caso não consiga comparecer, Michelle Bolsonaro representará o ex-presidente no evento.

A possível presença de Bolsonaro na posse reforça sua proximidade com Trump e com a nova onda de líderes conservadores que vêm ganhando espaço no cenário global, ao passo que sua ausência confirmará a tirania de Moraes e o cerceamento de liberdades instalada no Brasil. Caso sua participação se confirme, será um evento simbólico que pode consolidar ainda mais seu nome entre aliados internacionais e fortalecer sua posição política no Brasil.

Conclusão

A ausência de Lula na posse de Donald Trump é um reflexo das tensões diplomáticas entre os dois governos e das posições controversas adotadas pelo presidente brasileiro no cenário internacional. Enquanto países como Argentina e El Salvador estreitam laços com a nova administração dos EUA, o Brasil do (des)governo Lula pode estar se isolando cada vez mais de um de seus principais parceiros comerciais.

Além dos impactos diplomáticos, essa exclusão pode afetar a economia brasileira, dificultando negociações e parcerias estratégicas. Com um cenário global em constante mudança, a falta de alinhamento entre Brasil e Estados Unidos pode representar um desafio adicional para o governo Lula nos próximos anos.

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