Revista Poder

Aquele sujeito e a etiqueta na era dos emojis: Vale o relógio ou Amy Vanderbilt?

Bom dia ou boa tarde: Quem define é o relógio ou Amy Vanderbilt? || Crédito: FreePik

Bom dia ou boa tarde: Quem define é o relógio ou Amy Vanderbilt? || Crédito: FreePik

Era um sábado típico quando eu o encontrei. O relógio marcava 12h40 e, como uma ironia cruel do destino, ele cruzou meu caminho. Eu, em minha inocência, o cumprimentei: “Bom dia”. E ele, rapidamente e com uma empáfia digna de um humorista de quinta, respondeu: “Bom dia, não. Boa tarde, porque eu já almocei”.

Nesse momento, pude sentir Amy Vanderbilt se revirando em seu túmulo. No microssegundo entre sua resposta e minha réplica sufocada, fiz uma oração rápida pedindo autocontrole para não desferir um tapa estalado em sua face. Também rogava mentalmente uma praga até a quinta geração da família dele.

O sujeito parecia viver em um universo onde ele, e somente ele, controlava o tempo. Se não tivesse almoçado, estaríamos todos condenados a uma manhã eterna. Mas vivemos em uma era digital, e aqui Amy Vanderbilt também se revira.

‘Emojish’

Emojis substituem palavras, GIFs substituem frases inteiras, e a etiqueta se torna tão pixelada quanto os avatares que nos representam. Uma carinha sorridente não pode substituir um aperto de mão firme, e um emoji de coração não tem o peso de um abraço caloroso.

Mas nós tentamos, oh, como tentamos! Essa é uma era onde “você está atrasado” é substituído por um emoji de relógio e onde “eu te amo” é resumido em caracteres amarelos. Amy Vanderbilt deve estar se perguntando onde foi que erramos. Como a etiqueta, um pilar da civilidade, se tornou um jogo de símbolos sem substância?

Mas, talvez, os franceses, nossos eternos gurus em refinamento, estejam à frente do jogo. Eles, que dizem “Bonjour” do amanhecer ao anoitecer e evitam o “bon après-midi” como se fosse uma praga, compreendem que a simplicidade tem sua elegância. Eles sabem que um “Bonjour” bem colocado vale mais do que mil emojis.

Sejamos então todos um pouco mais franceses, especialmente quando o relógio marcar 12h40. Nesse jogo complexo de etiqueta e tecnologia, talvez os franceses nos ofereçam a solução mais elegante.

Enquanto nós, amadores da cortesia, nos perdemos em um mar de emojis e respostas sarcásticas, eles continuam com o seu simples e atemporal “Bonjour”, um cumprimento que serve para todas as horas e todas as situações.

E, quer saber? Eles estão certos. Porque um “Bonjour” francês tem mais peso e significado do que qualquer ícone colorido que possamos conjurar. Talvez seja a hora de olharmos para além dos nossos smartphones e reavaliarmos o que realmente importa quando se trata de interação humana.

Quem sabe assim, quando encontrarmos o irritante senhor do “Boa tarde, porque eu já almocei”, possamos sorrir genuinamente e dizer um “Bonjour” bem colocado, porque no final do dia, a cortesia verdadeira não tem hora nem lugar, ela é universal. Touché. || A.A.

“Boas maneiras têm muito a ver com as emoções. Para que soem verdadeiras, é preciso senti-las, não apenas exibi-las”. ~ AMY VANDERBILT

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