Por Agenor Duque
Nesta quarta-feira (27), o dólar atingiu a cotação de R$ 5,90, uma alta de 1,5% em relação ao real, marcando mais um capítulo na trajetória de enfraquecimento da moeda brasileira em 2024. O movimento foi impulsionado pela declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a iminente isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas que recebem até R$ 5 mil. A medida gerou preocupações no mercado sobre seu impacto fiscal, agravando a volatilidade da moeda nacional.
Segundo levantamento da Quantum Finance, até a última sexta-feira (22), o real já acumulava uma desvalorização de 16,78% no ano, ocupando o segundo lugar no ranking de pior desempenho entre as moedas latino-americanas. A liderança negativa segue com o peso argentino, que apresenta uma queda de 19,49%.
No Ranking de Desempenho das Moedas Latino-Americanas em 2024, temos:
- Peso Argentino (ARS): -19,49%
- Real (BRA): -16,78%
- Peso Mexicano (MXN): -16,72%
- Peso Colombiano (COP): -11,58%
- Peso Chileno (CLP): -9,38%
- Novo Sol Peruano (PEN): -3,08%
Após ultrapassar, pela primeira vez, a marca simbólica de 1.000 pesos por dólar em 19 de novembro, o peso argentino consolidou sua posição. Apesar do cenário crítico, o banco central argentino mantém certo controle sobre a moeda graças a uma política regulatória que permite desvalorizações mensais de até 2%.
No Brasil, a situação é mais volátil, sem qualquer parâmetro fixo para a desvalorização do real. Ao longo do ano, a moeda brasileira enfrentou dois meses de quedas acentuadas, superiores a 6%. Em junho, chegou a superar o peso argentino como a moeda de pior desempenho, com perdas acumuladas de 10,54%, contra 10,48% da moeda dos vizinhos.
O acirramento da disputa pelo título de pior moeda da região reflete tensões políticas internas e o impacto de fatores geopolíticos globais. A proximidade do real em relação ao peso argentino — com apenas 2,70% de diferença no acumulado até o dia 22 — sugere que o cenário de instabilidade pode empurrar o Brasil para a liderança indesejada no ranking.
A escalada do dólar encarece bens e serviços importados, pressionando ainda mais a inflação. Adicionalmente, investidores estrangeiros demonstram maior cautela com o Brasil, o que agrava a saída de capitais e dificulta o financiamento de projetos nacionais.
A política fiscal brasileira, que inclui a proposta de isenção de IR para rendimentos de até R$ 5 mil, é vista como um fator de incerteza pelos mercados. Embora a medida tenha como objetivo beneficiar a população de baixa renda, seu impacto sobre as contas públicas gera dúvidas sobre a capacidade do governo de manter o equilíbrio orçamentário.
No caso argentino, a situação é agravada por uma inflação que ultrapassa 140% ao ano, corroendo o poder de compra da população e alimentando tensões sociais. Enquanto isso, no Brasil, a inflação segue em níveis mais baixos, mas o ambiente político conturbado e a falta de confiança nas instituições econômicas intensificam a volatilidade.
Com o dólar acumulando ganhos de 0,49% frente ao real apenas em novembro, as expectativas para o fim do ano são de continuidade na desvalorização da moeda brasileira, especialmente diante de um cenário político interno frágil e de incertezas no mercado global.
Se os movimentos recentes forem mantidos, o real pode ultrapassar o peso argentino como a moeda de pior desempenho em 2024, algo que destacaria ainda mais a necessidade de ações coordenadas entre o governo e o Banco Central para resgatar a credibilidade do Brasil no mercado internacional.