As apostas online estão conquistando espaço entre os evangélicos no Brasil, mesmo com a tradicional resistência desse grupo aos jogos de azar. Pesquisa recente do Datafolha revelou que, enquanto modalidades como a Mega-Sena e o jogo do bicho seguem com pouca adesão, plataformas de apostas digitais têm encontrado terreno fértil, aproximando os fiéis das novas tendências do mercado.
Apostas digitais em alta
O levantamento, realizado com 1.935 pessoas de diferentes religiões, mostrou que 23% dos evangélicos já participaram de apostas esportivas online, como as populares bets. Esse número se assemelha à média da população geral, o que marca uma mudança em relação à postura historicamente conservadora desse grupo.
Entre católicos, o número de adeptos às bets é de 19%, dentro da margem de erro. Já em relação às loterias tradicionais, a diferença é mais evidente: apenas 19% dos evangélicos disseram apostar na Mega-Sena, contra 36% dos católicos.
Fatores culturais e tecnológicos
Especialistas apontam que a facilidade de acesso às plataformas digitais é um dos fatores que impulsionam a adesão dos evangélicos. “A ausência de uma interação física, como ir a uma lotérica, diminui a percepção de pecado associada ao jogo”, explica o cientista político Vinicius do Valle, do Observatório Evangélico.
Outro aspecto relevante é o apelo publicitário das bets, que utiliza expressões como “profetize sua vitória” para atrair os fiéis. Segundo a jornalista e autora Marília de Camargo Cesar, esse tipo de marketing dialoga diretamente com a linguagem religiosa. “A ideia de ‘profetizar’ remete à manifestação de bênçãos, algo muito presente na Teologia da Prosperidade”, observa.
O impacto econômico
Apesar da crescente adesão às apostas digitais, os evangélicos gastam menos em média que os católicos. Dados do estudo indicam que os primeiros desembolsam cerca de R$ 186 por mês em bets, enquanto os segundos chegam a gastar R$ 290. Já em cassinos digitais, a média mensal é de R$ 337 para evangélicos e R$ 517 para católicos.
Resistência às modalidades tradicionais
Mesmo com o avanço das plataformas digitais, as loterias tradicionais continuam sendo amplamente rejeitadas pelos evangélicos. Essa resistência está alinhada à doutrina de muitas igrejas, que veem o jogo de azar como uma prática moralmente condenável. “O jogo do bicho, por exemplo, carrega uma conotação de ‘malandragem’ que é especialmente mal vista no meio evangélico”, aponta o pastor Victor Fontana.