Revista Poder

Era uma… Gambrel! Uma história e um telhado que ‘moldaram’ os EUA

Uma casa com telhado Gambrel localizada em Jackson, no estado americano do Wyoming || Crédito: Audrey Hall via Inhabitat

Uma casa com telhado Gambrel localizada em Jackson, no estado americano do Wyoming || Crédito: Audrey Hall via Inhabitat

Entre muitos dos ricos que vivem o sonho americano em château deslumbrantes, existe um nome que ecoa como referência: Patrick Ahearn, o maestro da arquitetura Gambrel. Seus clientes, conscientes de cada linha e cada curva desse telhado icônico, não buscam apenas luxo, mas sim reverenciam a história. Escolhem o Gambrel como um tributo às raízes modestas de um país erguido por trabalhadores e visionários, onde celeiros se tornaram lares e lares se tornaram símbolos. Na ironia de um mundo onde pé-direito duplo e vidraças amplas e ‘cirilianas’ simbolizam poder, o verdadeiro prestígio está nos telhados altos, curvados, e cheios de memória. Talvez, nas entrelinhas, esses telhados lembrem que as maiores mansões são erguidas não sobre concreto e aço, mas sobre humildade, engenhosidade e o desejo ‘americanizado’ de sonhar.

Ahearn, o arquiteto cujas mansões deslumbram os olhos e desafiam o tempo, entendeu como poucos que o verdadeiro luxo não está nos excessos óbvios, mas nas histórias que sustentam as formas. Seus clientes – visionários modernos que celebram suas raízes enquanto constroem seus legados – escolhem os telhados Gambréis não apenas pelo charme, mas pelo que representam. Cada curva inclinada de seus ângulos perfeitos, e cada linha de madeira polida e medida em matemática perfeita, parecem narrar a jornada das humildes origens dos Estados Unidos, onde celeiros abrigavam sonhos e engenhosidade era a verdadeira riqueza. Nesses pieds-à-terre de telhados altos, ecoa um lembrete silencioso: a verdadeira grandeza não exige pés-direitos duplos. Está na habilidade de transformar simplicidade em algo extraordinário.

Agora, rebobinemos a história: era uma vez, em um país emergindo sob o domínio colonial, a maravilha arquitetônica já mencionada ‘nascia’ para simbolizar e moldar as aspirações de um novo mundo. E o ‘parto’ foi a adoção do telhado Gambrel na América, um marco da carpintaria medieval inspirado nos desenhos holandeses que mais tarde se tornou sinônimo da perseverança e da sagacidade americanas. A ‘trama’ começa com os holandeses, pioneiros do capitalismo, que desembarcaram no Novo Mundo armados com um plano para prosperidade nas finanças e um estilo de ‘prédio’ de madeira distintivo. Embora suas construções de tijolos e pedra com empenas escalonadas fossem marcantes, foi a funcionalidade do Gambrel que deixou um legado duradouro no solo americano.

Originário das arquiteturas medievais holandesa e inglesa, o Gambrel é reconhecido por suas laterais de declive duplo que não só enriquecem esteticamente a fachada, mas também maximizam o espaço habitável do sótão, refletindo uma fusão de utilidade com adaptação cultural. Sua planta se assemelha a um “meio octógono”, proporcionava um sótão amplo, aproveitando eficientemente o espaço sob a cobertura sem a necessidade de construir um segundo piso integral, economizando em custos e materiais. O desenho inovador foi rapidamente adotado nas colônias americanas, onde a funcionalidade e a economia de espaço eram altamente valorizadas.

Nos campos pastorais da América colonial, onde recursos eram escassos, os colonos holandeses construíram o primeiro Gambrel, usado inicialmente como celeiro. A estrutura dual do telhado maximizava a utilidade do espaço: o térreo servia para o gado e o sótão espaçoso para armazenar colheitas, as protegendo dos ácaros e pragas. Este design não apenas economizava espaço, mas também recursos e trabalho ao eliminar a necessidade de construções de armazenamento adicionais.

O nome “Gambrel” deriva do latim “gamba”, algo como “perna de cavalo”, aludindo à forma do telhado que imita a dobra da perna do animal. Uma tesoura Gambrel é um tipo de madeiramento morfológico com uma planta de dupla inclinação. Com sua inclinação superior mais acentuada e uma inclinação inferior mais suave. Isso o torna particularmente vantajoso em regiões com intensas nevascas, já que a inclinação pronunciada permitia que a neve deslizasse facilmente, aliviando o peso e o estresse nas fundações.

Introduzido nas colônias americanas por colonizadores holandeses e ingleses no início do século XVII, porém popularizado um pouco antes na França, pelo arquiteto francês François Mansart (daí o nome de outro tipo de telhado, o Mansarda), o Gambrel ganhou popularidade por sua praticidade e facilidade de montagem, se tornando um elemento básico na arquitetura colonial, evidente em várias casas e celeiros da época. E continua sendo uma pièce de résistance por sua praticidade e facilidade de construção.

A narrativa, no entanto, se aprofunda em um desses celeiros, e em particular em seu proprietário holandês, um ‘empresário visionário’ que utilizava o espaço como um ativo econômico. Ocasionalmente, o bambambã daqueles tempos oferecia abrigo aos seus empregados americanos na propriedade, uma conveniência que descontava dos ‘salários’ deles, mas que também representava uma economia significativa comparada ao aluguel de uma residência independente. Dentro desse contexto de resiliência, a história específica a de um estrangeiro que viu no Gambrel não apenas um telhado, mas um instrumento econômico, se destaca.

Conforme os ‘esforços coloniais’ holandeses declinavam, um americano que antes alugava espaço no celeiro o comprou, e o converteu em sua residência. O ato de transformação, quase um ‘rito de passagem’, além de físico, era simbólico. Representou, por si só, a adaptabilidade e o empreendedorismo que viriam a definir o ethos americano. O pioneiro, habilidoso em carpintaria, renovou sua nova casa com janelas guilhotina e telhas de madeira, criando um modelo que se tornaria popular entre os vizinhos. Sua iniciativa refletia não apenas o espírito prático da época, mas também o ideal emergente americano de autossuficiência baseada na inovação. Dessa forma, o passo emblemático aconteceu quando um americano ‘assumiu’ o celeiro, o transformando em seu lar. Essa conversão representava brado retumbante – era um eco da capacidade de adaptação simbolizada pelo Gambrel.

O Gambrel transcende sua função de mero telhado para se tornar uma metáfora da jornada americana. De simples celeiros a deslumbrantes casas projetadas por arquitetos renomados como Ahearn, esses meios octógonos se estabelecem como pilares da arquitetura, constantemente lembrando que, às vezes, a ‘chave’ para o sucesso realmente reside em uma estrutura de pau com um telhado, distintamente, inclinado. Longe de ser uma mera peça estrutural, o Gambrel encarna a ‘Alma’ da adaptação e prosperidade que moldou os EUA. Não, não é apenas um telhado. é uma figura da jornada americana que revela como inovações aparentemente broncas podem transformar sociedades e superar adversidades, demonstrando que a verdadeira reforma sistematicamente surge da necessidade e da criatividade prática.

Os Gambréis mostram que, às vezes, o xeque-mate da arquitetura está em uma casinha de madeira com um telhado angulado e único. São, acima de tudo, uma lembrança ‘em tempo’ real de que o valor tangível muitas vezes reside não na grandiosidade, mas na capacidade intangível de se adaptar e inovar com humildade e resiliência. O Gambrel é muito mais do que um elemento construtivo. Sua maestria está em simetria que o torna um dos maiores lemas da capacidade americana de se adaptar e prosperar. O ‘telhado Celeiro’ expõe como simples inovações podem transformar sociedades e triunfar sobre adversidades, provando que uma ‘lenha de lareira’ em potencial contém, lá de vez em quando, a inovação na qual brota a necessidade para o uso da criatividade.

Aquele americano que adquiriu o velho celeiro do seu antigo ‘patrão’ holandês conhecia bem esse princípio, refletido não como sombras nos mares, mas em suas mão calejadas. Ao desfecho desse ‘bafão’, ele percebeu que, no fim das contas, tudo o que realmente lhe faltava era… uma Gambrel. || A.A.

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