Revista Poder

Pessoas diagnosticadas com câncer precisam de cuidados até o fim da vida

Acompanhamento médico, suporte emocional e monitoramento de recidivas e novos tumores estão entre os cuidados que pacientes oncológicos necessitam até o final da vida.

O Observatório Global do Câncer estima que, hoje, existam 32 milhões de indivíduos nessas condições no mundo. O avanço da medicina e da ciência contribuiu para o aumento dessa parcela da população. Entre esses avanços, destacam-se o rastreamento para detecção precoce dos tumores, as pesquisas focadas na biologia do tumor e o desenvolvimento de tratamentos como a imunoterapia, as terapias-alvo e os tratamentos personalizados baseados em biomarcadores.

Conversamos com a médica oncologista Sabrina Chagas, da Oncologia D’Or, sobre os cuidados relativos aos pacientes diagnosticados com câncer e o papel de práticas integrativas como yoga, meditação e acupuntura no bem-estar dessas pessoas.

Por que os cuidados com os pacientes oncológicos devem se estender até o final da vida?

A Sociedade Americana do Câncer usa o termo sobrevivente de câncer para se referir a qualquer pessoa que já foi diagnosticada com câncer, não importa onde esteja no curso da doença. O conceito moderno de sobrevivência oncológica abrange o acompanhamento contínuo do paciente, a gestão dos efeitos colaterais tardios do tratamento, o suporte emocional e social, além do monitoramento de recorrências ou novos tumores. Mesmo após o tratamento, os pacientes podem enfrentar desafios físicos e emocionais por anos, como o impacto dos efeitos tardios, problemas na qualidade de vida, medo de recidiva e outras condições associadas. Trata-se de um processo que deve ser monitorado e apoiado até o fim da vida, promovendo um cuidado integral que reconhece a complexidade da jornada do paciente oncológico.

Como as instituições de saúde podem suprir as necessidades das pessoas que já foram diagnosticadas com câncer?

Os centros de tratamento enfrentam desafios para fornecer cuidados que atendam às complexas necessidades de bem-estar físico, mental e espiritual dos sobreviventes do câncer. Os efeitos persistentes do tratamento incluem fadiga, dor, comprometimento do funcionamento sexual e dificuldades para dormir, sintomas que podem ser complicados pelo medo de recidiva, perda percebida de apoio, sofrimento psicológico e comprometimento financeiro. Novos modelos de tratamento precisam fornecer serviços abrangentes que abordem as diversas preocupações dessa população e incluam os cinco domínios necessários para atender às necessidades relacionadas ao câncer e seu tratamento ou aos cuidados gerais: prevenção de doenças, promoção da saúde, vigilância e gestão de efeitos físicos, psicossociais e condições médicas crônicas.

Qual o papel de práticas como yoga, meditação e mindfulness nos pacientes oncológicos?

O manejo de sintomas é uma área na qual a Medicina Integrativa se destaca, mas seu impacto vai além disso. Ela promove a melhoria da qualidade de vida e bem-estar dos sobreviventes do câncer. Por exemplo, a fadiga, presente em até 80% dos pacientes oncológicos, requer um olhar além da prescrição medicamentosa, por ser um sintoma não só físico, mas também cognitivo e emocional. Intervenções como yoga, meditação e acupuntura, todas baseadas em evidências científicas, podem melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida. Além disso, a depressão e a ansiedade são comuns após o diagnóstico de câncer. A American Society of Clinical Oncology (ASCO), uma das principais instituições de oncologia do mundo, endossa diretrizes que recomendam práticas integrativas como o mindfulness para aliviar esses sintomas. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) recomenda a atividade física para sobreviventes do câncer, pois acelera o processo de recuperação do tratamento, estende a sobrevida e reduz o risco de recidiva em alguns subgrupos.

É fundamental reforçar que a Medicina Integrativa foca no paciente como um todo, respeitando suas necessidades e preferências, em vez de se concentrar apenas na doença. Muitos pacientes utilizam abordagens complementares, mas nem todos comunicam isso aos médicos, o que pode comprometer a segurança do tratamento. Portanto, é essencial que a Medicina Integrativa, em colaboração com os oncologistas, ofereça um cuidado que una ciência e humanidade, priorizando o bem-estar dos pacientes.

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