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Acuada por investigação de empresários corruptos, Rosana Valle acusa Folha de S. Paulo, Jovem Pan e Diário de S. Paulo de mentirem

rosana valle

Foto: Reproução / G1

Com seu nome citado por empresários corruptos, Rosana ataca imprensa

Cercada por empresários envolvidos em corrupção e crimes ambientais, a candidata a prefeita de Santos,  Rosana Valle (PL), entrou em desespero e passou a atacar veículos de imprensa como Folha de São Paulo, Jovem Pan e Diário de São Paulo, que publicaram matérias sobre a investigação dos empresários que querem a candidata eleita em Santos.

Em suas redes sociais, a deputada gravou um vídeo tentando ludibriar seus eleitores e desviar o foco da investigação atacando veículos de imprensa de forma desesperada, sugerindo que foram matérias compradas.

A deputada Rosana Valle quer esconder que seu nome foi citado em mensagens que a Polícia Civil encontrou nos celulares de empresários investigados e que sofreram busca e apreensão. Nas mensagens, eles citam Rosana e o chefe de gabinete do deputado estadual Tenente Coimbra (PL), coordenador do partido na Baixada Santista e influente na campanha da deputada.

DESQUALIFICA

Em um vídeo divulgado nesta quarta-feira (23) em suas redes sociais, Rosana tenta desqualificar matérias da Folha,  Diário de S. Paulo e Jovem Pan, condenando as reportagens sobre o surgimento de seu nome entre mensagens trocadas por empresários que agora estão sob investigação da Polícia Civil e do Ministério Público.

No vídeo, Valle afirma que veículos estariam sendo procurados, com ofertas de dinheiro, para repetir matéria mentirosa sobre um crime ambiental”. Em outro trecho, a candidata diz que “não tem nada que me comprometa ou que me envolve nessa situação”. Mesmo assim, Rosana, visivelmente perturbada com a repercussão das publicações, tenta desqualificar os veículos que publicaram tais informações.

A matéria a que Rosana Valle se refere, envolve diretores de uma empresa que opera resíduos em São Vicente. Por terem sido multados e processados por crimes ambientais, esses empresários decidiram apoiar Rosana para prefeita, pois acreditam que com ele seria mais fácil operar junto a servidores da Cetesb envolvidos em corrupção.

MATÉRIA TEMIDA POR ROSANA

Este é o texto publicado, com algumas variações de estilo pelos veículos citados pela candidata Rosana Valle.

“Empresários apoiadores da campanha da candidata a prefeita de Santos, deputada federal Rosana Valle (PL), investigados pela Polícia, agora foram oficialmente denunciados  pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). Eles são acusados de crimes ambientais graves, cometidos em São Vicente, litoral sul de São Paulo. Numa investigação da Polícia Civil e do Ministério Público, o nome de Rosana aparece em mensagens trocadas entre os donos da PGV – Terraplanagem e Gerenciamento de Resíduos. Eles falavam sobre a importância de eleger Rosana. A ideia é que com ela seria fácil o acesso junto à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

Como antecipado pela reportagem, a Polícia Civil encontrou o nome da deputada federal Rosana Valle (PL), candidata a prefeita de Santos, numa investigação de corrupção envolvendo empresários influentes. Eles discutem sobre a necessidade de eleger Rosana prefeita. As conversas sinalizavam que eles seriam próximos de Rosana Valle.

Na troca de mensagens entre Rafael Braz e Paulo Gustavo Vieira, donos da PGV, eles falam claramente sobre a preferência pela deputada. “Temos que eleger a Rosana…” diz um deles, reforçando a importância de ter a parlamentar como  prefeita a partir de janeiro de 2025.

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Na conversa divulgada, a que a reportagem teve acesso, o chefe de gabinete do deputado Tenente Coimbra – que é coordenador do PL na Baixada – é citado como uma “ponte” entre os empresários e Rosana Valle, considerando a influência de Coimbra junto à candidata. Não fica claro se Coimbra chegou a tratar do assunto com Rosana.

FACILIDADES

O teor das mensagens encontradas, mostra que Rafael Braz, um dos sócios da PGV, que opera na Baixada, teria interesse na eleição de Rosana Valle, acreditando que, com ela, supostamente, teriam facilidade para acessar suas demandas junto à Cetesb. Eles esperavam uma licença prévia para operar na região onde foram constatadas as irregularidades.

Ao citarem Gustavo, chefe de gabinete de Coimbra, discutem como buscar apoio político para suas operações, evidenciando uma proximidade entre o gabinete do deputado e os interesses empresariais investigados. Em uma das mensagens, datada de 9 de julho, Paulo Gustavo Vieira escreve: “Vamos pensar e ver a melhor solução agora, ver com o Gustavo [chefe de gabinete de Tenente Coimbra] se o deputado vai defender o cargo.

RELAÇÕES SUSPEITAS

Essa menção, segundo investigadores, levanta questionamentos sobre o grau de envolvimento do deputado nas questões ambientais em discussão. Tenente Coimbra, além de ser coordenador do PL na Baixada Santista, também lidera a campanha de Rosana Valle à prefeitura de Santos.

Esquema na Cetesb

A Polícia Civil da Baixada Santista e o Ministério Público estão à frente de uma investigação que apura irregularidades em licenciamento ambiental envolvendo a PGV, FortNort e outras empresas parceiras. As acusações indicam que essas empresas se beneficiaram de facilidades dentro da Cetesb para obtenção de licenças e para evitar fiscalizações rigorosas em áreas de proteção ambiental.

Diante disso, a candidatura de Rosana Valle (PL) à prefeitura de Santos foi citada como parte de uma estratégia para manter esses interesses empresariais desses que foram formalmente denunciados pelo Ministério Público.

Mensagens de WhatsApp trocadas entre os sócios da PGV, Paulo Gustavo Vieira e Rafael Braz, em 18 de maio de 2024, encontradas durante operações policiais, revelam preocupações e planos dos empresários em relação ao descarte irregular de resíduos. Em uma mensagem, Rafael Braz demonstrou claramente sua inquietação ao afirmar: “Temos que fazer direito, caracterizar a mineração em área irregular sem licença da ANM [Agência Nacional de Mineração] e Cetesb.” A frase expõe a consciência dos envolvidos sobre as atividades irregulares que estavam sendo conduzidas.

ROSANA CITADA NA TRAMA

Outro trecho das conversas, datado de 6 de abril deste ano, segundo investigadores, aponta para um esforço articulado para influenciar o cenário político local. Braz escreveu a Paulo Gustavo Vieira: “Temos que eleger a Rosana, em Santos.” A frase deixa claro que a candidatura de Rosana Valle era vista pelo empresário como, supostamente, um meio estratégico para garantir apoio e favorecer as operações empresariais da PGV na Baixada Santista.

SERVIDORES NA MIRA

Segundo a Folha e a Jovem Pan, investigação conduzida pelo Ministério Público e pelo Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (GAEMA) também revelou que servidores da Cetesb teriam desempenhado um papel importante no esquema de facilitação de licenças. Segundo as investigações, a PGV contou com alterações de licenças de concorrentes, realizadas por agentes da Cetesb, para favorecer seus interesses, além de ajustes em sistemas de controle que permitiram à empresa continuar operando sem restrições. As investigações indicam ainda que esses ajustes foram realizados para facilitar a vitória da PGV em licitações e contratos na Baixada Santista.

Durante as operações policiais, as residências e escritórios dos sócios da PGV foram alvo de mandados de busca e apreensão, incluindo Paulo Gustavo Vieira, Rafael Braz, e o gerente da empresa, Rui Abel de Lara. Entre os materiais apreendidos estavam equipamentos eletrônicos, documentos e celulares, cujas mensagens serviram como base para a ampliação das investigações.

As mensagens extraídas dos celulares não deixam dúvidas sobre o foco dos empresários: manter suas atividades, muitas vezes irregulares, e garantir licenças, mesmo em áreas protegidas e sem os devidos estudos de impacto ambiental. Conversas como as citadas acima mostram que havia um claro entendimento entre os envolvidos sobre a importância de garantir apoio político local, e a candidatura de Rosana Valle aparece como peça-chave neste esquema.

A investigação continua, com o Ministério Público e a Polícia Civil aprofundando a análise dos materiais obtidos e da possível relação entre a campanha de Rosana Valle e os interesses empresariais que orbitam a PGV e seus parceiros. As autoridades ainda avaliam as ligações políticas envolvidas, e o nome de Gustavo, chefe de gabinete do deputado Tenente Coimbra, permanece no centro das apurações.

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