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Coreia do Norte explode vias próximas da fronteira com o Sul

Coreia do Norte explode vias próximas da fronteira com o Sul

O ato possui um forte simbolismo em um momento de tensão crescente entre os líderes de ambos os países - Reprodução X (@areamilitarof)

O momento traz um grande simbolismo em meio ao momento de tensão entre as nações da Coreia do Sul e Coreia do Norte

Nesta terça-feira (15), a Coreia do Norte detonou trechos de duas importantes estradas que conectam sua parte ao sul da península, conforme relataram autoridades sul-coreanas. Pyongyang havia anteriormente advertido que tomaria ações para interromper completamente suas ligações com o território sul-coreano.

Explosivos foram utilizados para destruir seções da linha Gyeongui, na costa oeste, e da linha Donghae, na costa leste. O ataque aconteceu por volta das 12h, horário local da Coreia, segundo informações do Estado-Maior Conjunto (JCS) de Seul. Embora a destruição das rotas de transporte não traga impactos práticos significativos, já que as duas Coreias estão divididas por uma das fronteiras mais fortemente militarizadas do mundo e as estradas não eram utilizadas há anos, o ato possui um forte simbolismo em um momento de tensão crescente entre os líderes de ambos os países.

Explosões

Um vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa sul-coreano registrou várias explosões nas estradas do lado norte da linha de demarcação militar. Máquinas pesadas, como caminhões e escavadeiras, foram vistas em pelo menos uma das estradas, que estava parcialmente bloqueada por uma barreira preta. O JCS indicou que o Norte estava realizando “trabalhos adicionais com máquinas pesadas” no local, mas não forneceu mais detalhes.

Em resposta, os militares sul-coreanos dispararam artilharia na área ao sul da linha de demarcação. Eles também estão monitorando de perto os movimentos das forças norte-coreanas, mantendo “uma postura de prontidão total em cooperação com os EUA”, conforme afirmou o JCS. Na segunda-feira (14), a Coreia do Sul relatou ter detectado indícios de que a Coreia do Norte se preparou para demolir as estradas que conectam os dois países, alertando que as explosões poderiam ocorrer a qualquer momento. Embora suas forças armadas tenham adotado contramedidas, o Ministério da Defesa não divulgou detalhes.

Um porta-voz do JCS, Lee Sung-joon, revelou que militares sul-coreanos observaram pessoas trabalhando atrás de barreiras nas estradas do lado norte da fronteira. As explosões aconteceram poucos dias após a Coreia do Norte acusar a Coreia do Sul de enviar drones carregados de propaganda para sua capital, Pyongyang. O governo norte-coreano também ameaçou “retaliação”, em uma nova rodada de provocações que seguiu meses de envio de balões com lixo do Norte para o Sul.

Medida militar

Na semana passada, o exército da Coreia do Norte anunciou que tomaria a “medida militar substancial” de romper completamente seu território com a Coreia do Sul, depois que Kim Jong-un rejeitou, no início do ano, uma política de longa data que buscava a reunificação pacífica.

Desde o término da Guerra da Coreia, em 1953, com um acordo de armistício, as duas Coreias permanecem separadas. Além disso, permanecem tecnicamente em guerra, apesar dos esforços dos governos de um dia se reunificarem. Em janeiro, Kim afirmou que a Coreia do Norte não buscaria mais a reconciliação e a reunificação. Ele ainda caracterizou as relações intercoreanas como “um relacionamento entre dois países hostis e dois beligerantes em guerra”, conforme reportado pela KCNA na época.

Situação atual

Em um comunicado da KCNA de 9 de outubro, o estado-maior do Exército Popular Coreano (KPA) declarou que as restantes estradas e ferrovias conectadas ao Sul sofreriam o desativamento. Isso serviria para impedir o acesso ao longo da fronteira. “A situação militar aguda prevalecente na península coreana exige que as forças armadas da RPDC tomem uma medida mais resoluta e forte para defender de forma mais credível a segurança nacional”, afirmava o aviso da KCNA, que se referia à Coreia do Norte pelo seu nome oficial, República Popular Democrática da Coreia.

O estado-maior justificou as medidas como uma resposta aos recentes “exercícios de guerra” realizados na Coreia do Sul. A presença de alegados ativos nucleares estratégicos dos EUA na região também foi um dos motivos que apresentaram. No ano passado, a visita de um porta-aviões americano, navios de assalto anfíbio, bombardeiros de longo alcance e submarinos à Coreia do Sul provocou reações furiosas de Pyongyang.

Desde janeiro, Pyongyang tem fortalecido suas defesas de fronteira, com a instalação de minas terrestres, construção de armadilhas antitanque e remoção de infraestrutura ferroviária, segundo o exército sul-coreano. A retórica entre os líderes das duas Coreias também se intensificou. No início deste mês, Kim ameaçou usar armas nucleares para aniquilar a Coreia do Sul em caso de ataque. Isso aconteceu após o presidente sul-coreano alertar que, se o Norte utilizasse armas nucleares, “enfrentaria o fim de seu regime”.

Coreia do Norte

Esses comentários surgem em um contexto de intensificação dos esforços da Coreia do Norte em produção nuclear e aprofundamento das relações com a Rússia. De acordo com a CNN, isso aumenta as preocupações no Ocidente sobre a direção que a nação isolada está tomando.

Leif-Eric Easley, professor da Ewha Womans University em Seul, sugere que a decisão da Coreia do Norte de cortar seu território do Sul pode ser uma estratégia de Kim para “transferir a culpa por seus fracassos econômicos e legitimar seu custoso acúmulo de mísseis e armas nucleares” ao exagerar ameaças externas. “Kim Jong-un quer que o público, tanto doméstico quanto internacional, acredite que ele está agindo com força militar, mas pode estar, na verdade, motivado por fraqueza política”, observou Easley. “As ameaças da Coreia do Norte, sejam reais ou retóricas, refletem a estratégia de sobrevivência de um regime autocrático e hereditário”.

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